O Brasil vive um momento muito delicado. Ou melhor: vive um período muito delicado. Os números desoladores da economia no terceiro trimestre — com encolhimento de 1,7% em relação ao segundo e 4,5% no acumulado de 12 meses — forçaram os economistas e os analistas a ver o mundo como ele é. A economia brasileira deve encolher quase 4% neste ano — boa parte aposta em 3,8% —, e já se fala de uma recessão de 3,5% no ano que vem.
E, no entanto, vejam lá a pantomima a que se assiste em Brasília; vejam a que está reduzido o futuro do país. A máquina governista é mobilizada para conseguir três votinhos do PT no Conselho de Ética com o objetivo de que Eduardo Cunha arquive a denúncia contra a presidente.
A crise tem muitos fatores, claro!, mas tem um nome: Dilma Rousseff. Um presidente da Câmara que não estivesse empenhando, hoje, primeiro em livrar a própria pele para só depois cuidar dos interesses do Brasil já teria acolhido a denúncia, deixando para o Congresso — num primeiro momento, a própria Câmara e, a depender da votação nesta, num segundo, o Senado — a tarefa de decidir o futuro do país. Mas não! Cunha opera com a mais reles reciprocidade: se o PT, por intermédio de seus três votos no Conselho de Ética, não ameaçar o seu mandato, então ele não ameaça o de Dilma.
Entendam: vivemos sob a égide dessa troca mesquinha enquanto a economia do país vai para o ralo, sugada, sim, por todos os erros e mistificações desses 13 anos de petismo, mas também por uma crise de confiança como raramente se viu — ou como não se viu. A condução política do governo consegue fazer inveja aos neófitos trogloditas da era Collor.
Notem: não vai surgir uma estrela no céu indicando um caminho. Nenhuma força superior vai se manifestar lá nas alturas para nos dar a resposta. Não existe nenhum grande desajuste na economia internacional, prestes a se corrigir, que vai, então, nos abrir uma janela. Ao contrário até: o cenário é de relativa estabilidade. A economia mundial vai razoavelmente bem; quem está mal é o Brasil.
Já se escreveu o bastante como chegamos aqui. Conhecemos, os que acompanhamos o noticiário no detalhe, todas as advertências que foram feitas, alertando para a determinação com que o PT empurrava a economia para o abismo — e os fatores já estavam dados nos anos ditos gloriosos de Lula. Na primeira fase de Dilma, às imprudências do segundo mandato do Babalorixá de Banânia, somaram-se uma notável arrogância e certo messianismo visionário daquela que se queria a continuadora de um novo modelo econômico.
Atenção, meus caros! Há exatos três anos, em dezembro de 2012, o Instituto Lula e a Fundação Jean-Jaurès, em Paris, realizaram na capital francesa o “Fórum pelo Progresso Social – O Crescimento como Saída para a Crise”. Dilma e o ex-presidente discursaram. Deram pito no mundo, com especial recado para a Alemanha de Angela Merkel.
Transcrevo abaixo o trecho de um texto publicado no site do Instituto Lula. Tomem antes um Engov:
O modelo brasileiro de combate à crise, focado em estímulos ao crescimento e na manutenção do emprego, foi constantemente citado como um exemplo que pode ser transferido à realidade da crise européia. “Se alguém pode ensinar alguma coisa aos europeus sobre como lidar com crises e superá-las, este é o homem”, destacou o jornal alemão Frankfurter Rundschau, no dia 7 de dezembro. O jornal francês Le Figaro, destacou em manchete “Paris estende tapete vermelho para o Brasil” no dia 10. O espanhol El Mundo deu destaque também para as críticas que Lula fez à estrutura anacrônica de órgãos da ONU, como o Conselho de Segurança, que mantém uma composição fechada desde o fim Segunda Guerra Mundial, ignorando as mudanças geopolíticas que aconteceram desde então. “Hoje a ONU não está à altura do que o mundo necessita”, repetiu o jornal. A agência internacional Inter Press Service (IPS), tradicionalmente engajada em causas sociais, resumiu em uma manchete sua avaliação do fórum: “Modelo econômico do Brasil oferece raio de esperança”.
Um mês depois, em janeiro de 2013, Dilma confirmou em rede nacional de rádio e televisão a redução da tarifa de energia elétrica — uma das medidas que ajudaram a quebrar o setor — e criticou os pessimistas.
A presidente respondeu assim a seus críticos:
“Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda.
Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.
O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.”
Visto à luz da história, esse discurso se torna moralmente doloso. Na eleição de outubro de 2014, ela repetiu parte dessas mentiras.
O seu modelo mágico premia o Brasil, contra todas as advertências, com uma das mais graves e duradouras recessões da história. E, como sempre, será pior para os mais pobres.
Não há saída fácil para o país. Não há saída possível com Dilma Rousseff. Ela é hoje a catalisadora da crise. E, por isso também (além de ter cometido crime de responsabilidade), tem de sair.
O país não pode continuar a pagar o preço de sua teimosia, de sua arrogância e de sua incompetência.
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário