sábado, 5 de dezembro de 2015

Já vai tarde 2015


Mar de lama

O ano de 2015 poderia ser reconhecido como o pior da história do Brasil, pela completa ausência de boas notícias e a conjunção de tragédias, escândalos e a miséria na economia que surpreendeu até os mais pessimistas. Poucos meses se passaram e o ano segue nos brindando com muita lama, deterioração incessante no cenário político e revelações tragicômicas nos múltiplos esquemas de corrupção que proliferam país afora.

A prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, até então ausente do grupo de notáveis picaretas sempre envolvidos nos rumores de maracutaias, e do banqueiro André Esteves, cuja carreira ascendeu meteoricamente após a Era Lula, colocou querosene no fogaréu da Lava-jato. No centro da confusão, Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobrás, preso e condenado e com uma delação premiada a caminho que tem causado noites insones em Brasília. Delcídio, o humanista, planejava a fuga de Cerveró apoiado por André, o arrojado. Na gravação da conversa com Bernardo, o ator, filho do preso que assombra os políticos, entregue pelo próprio à Polícia Federal, há elementos de sobra para constranger ainda mais o país: a compra do silêncio em troca da fuga, mesada de R$ 50 mil mensais e módicas luvas de R$ 4 milhões; a revelação que mesmo após ser assaltada por ladrões de toda estirpe, a moribunda Petrobrás segue alvejada pelos vampiros da pátria, cujo foco agora é a área de Tecnologia, que apesar de não ser a principal, detém contratos milionários com grande potencial de geração de pixulecos; o surpreendente vazamento do conteúdo da delação de Cerveró para Esteves, antes mesmo de ser oficializada; a confirmação do princípio mafioso na concepção de ética: delatores são canalhas, éticos são aqueles que mantém a boca fechada e a lealdade ao esquema; o suposto trânsito fácil e autoconfiante que o senador dizia ter junto ao STF, revelação que pode ter lhe custado um castigo mais severo que o usual.

Imaginem vocês se todas as conversas em Brasília fossem gravadas. O Brasil implodiria, submergiria no oceano, seríamos a Atlântida contemporânea!

Guiado por Murphy, aquele da lei maldita, o ano ainda nos ofereceu a lama de Mariana, uma epidemia de microcefalia no Nordeste causada por um vírus de nome sugestivo (Zika – carregado pelo mosquito da dengue), uma empreiteira (Andrade Gutierrez) assumindo que ‘subornou geral’ para ganhar as obras da Copa, e um presidente da Câmara mais enlameado que os cardumes do Rio Doce. Como se não bastasse, o Corinthians foi campeão brasileiro de maneira incontestável, sem deixar chance para reclamação. Não citarei as trapalhadas e os discursos desconexos de nossa chefe de estado, pois esses já fazem parte do anedotário popular e divertem nosso cotidiano. 

Em Caçapava o prefeito eleito pegou o político mais desprezado pelo povo da cidade, penúltimo colocado na ultima eleição municipal (de seis candidatos) e o transformou em ‘Eminência Parda’ da sua administração. É surreal!

O ano de 2015 escancarou nossas mazelas. Para esquecer? Não. Para ser lembrado e relembrado. Que figure nos livros de história como o momento da guinada de um país que anseia pelo fortalecimento de suas instituições, para que elas prevaleçam sobre governo e pessoas e sustentem o estado democrático de direito. No meio de tanta desgraça é inegável a constatação de que o país evoluiu. A velocidade da mudança é inferior às nossas expectativas, mas pouco a pouco o vigor institucional vai debilitando a picaretagem. E quanto à crise histórica na economia? Nesse caso, não podíamos ser ingênuos a ponto de acreditar que as escolhas erradas da maioria seriam impunes. Esperemos que o sofrimento não seja em vão e que mais uma década perdida nos ensine a votar.

Apesar de todos os pesares, fica a esperança de que para todo esquema de bandalheira minuciosamente planejado para enriquecer uns poucos em detrimento de um país, haverá a partir de agora a ameaça da punição. E que a voz firme da opinião pública siga vigilante e capaz de produzir resultados surpreendentes, como o 59×13 do Senado. Que os minúsculos feixes de luz desse ano sombrio ganhem proporções estelares em 2016.

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