Nos próximos dias, o governo travará com a oposição e com o grupo político do vice-presidente Michel Temer uma queda de braço em torno do calendário do impeachment. Com pressa, o Planalto tenta obter o cancelamento das férias dos parlamentares. Interessados em esticar o calvário de Dilma Rousseff, os adversários da presidente querem manter o recesso que desligará as fornalhas do Congresso entre o final de dezembro e o dia 2 de fevereiro de 2016.
O embate ocorre contra um pano de fundo tisnado pela depressão econômica. O Planalto corre contra o relógio por recear que, com a economia no freezer, o asfalto volte a pegar fogo. E os antagonistas de Dilma pisam no freio justamente para oferecer às ruas mais tempo para programar a combustão.
“Quanto mais se deteriora a economia, maiores são as chances de as ruas voltarem a roncar”, diz o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). “O governo quer apreciar o impechment a toque de caixa porque o mês de dezembro, com Natal e Ano Novo, assim como janeiro, com as férias escolares, não são propícios às grandes manifestações.”
“O processo de impeachment acaba de ser aberto, tem que deixar as ondas baterem nas pedras para saber como ficará a espuma”, ecoa o ex-ministro Geddel Vieira Lima, amigo de Michel Temer e integrante da comissão de frente do bloco pró-impeachment do PMDB. “É preciso dar tempo para que as ruas se manifestem e os partidos se organizem.”
O cancelamento do recesso parlamentar depende de decisão conjunta dos presidentes da Câmara e do Senado. Mais: mesmo que Eduardo Cunha e Renan Calheiros cheguem a um consenso, será necessário que a providência seja aprovada pela maioria absoluta das duas Casas —41 dos 81 senadores e 257 dos 513 deputados.
Abre parênteses: de certo modo, essa votação serviria para medir o tamanho da infantaria legislativa do Planalto. Quando o impeachment chegar ao plenário da Câmara, Dilma precisará arrastar pelo menos 171 dos 513 votos para sepultar o impeachment. Fecha parênteses.
Ouvido pela oposição, Renan disse não ter tomado ainda uma decisão a respeito do recesso. Curiosamente, ele relatou que Eduardo Cunha, a quem chama de “vizinho”, o estaria pressionando para cancelar as férias. Renan reuniu-se com Dilma na quinta-feira da semana passada. E a oposição teme que ele esteja apenas sendo dissimulado, antes de aderir ao ritmo de toque de caixa do governo.
Renan é um tipo peculiar de político. Nas conversas com os colegas, ele por vezes procura não parecer o que é, porque acha que o interlocutor pode não ser o que parece ou, pior, ser e parecer.
Geddel, o aliado de Temer, acha que os defensores do fim das férias não se deram conta de alguns detalhes: “Não concebo que Eduardo Cunha queira endossar o cancelamento do recesso, colocando o Conselho de Ética para funcionar contra ele. Sem recesso, o Congresso terá de colocar na pauta também a votação do parecer do Tribunal de Contas da União que rejeitou as contas do governo Dilma de 2014.”
O tema será debatido nesta segunda-feira (7) em reunião do ministro Ricardo Berzoini, coordenador político do Planalto, com líderes de partidos governistas. Afora a questão do calendário, Berzoini quer se certificar de que os aliados do governo indicarão para a comissão do impeachment, a ser instalada no início da noite, apenas deputados cuja fidelidade ao governo seja canina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário