Ai, que preguiça!, disse Macunaíma ao vir à luz. Eu sou uma pessoa dada a certos formalismos e acredito na informação que os institutos de pesquisa prestam ao TSE. O Ibope informou ao tribunal que começara a fazer uma pesquisa para a eleição presidencial no dia 15, registrada no dia 17, com o encerramento do campo no dia 22 — e o dia 22, salvo melhor juízo, é hoje. Ocorre que o resultado já foi divulgado, o que faz supor que o campo, então, terminou antes. Quando?
Os questionários foram aplicados enquanto estava no ar a propaganda política terrorista do PT — que foi tirada do ar pelo próprio TSE. Convenham: não é exatamente o melhor momento para fazer uma pesquisa. A anterior do instituto incorreu no mesmo vício.
Boataria
O Ibope está em campo desde o dia 15, segundo informação oficial, mas a boataria corre solta desde o dia 18 — na verdade, começou a circular no mercado financeiro no dia 17: Dilma teria subido; Aécio teria caído ou ficado igual. Vamos ver.
Comparado o Ibope consigo mesmo, todo mundo subiu — e, proporcionalmente, os dois candidatos de oposição cresceram mais. Ocorre que não é assim que são as coisas. A referência das pessoas que acompanham esse assunto é a pesquisa anterior do Datafolha, do começo deste mês. Aécio e Campos aparecem nos dois institutos com o mesmo índice: 20% e 11%. Dilma, no entanto, aparece no Ibope com três pontos percentuais a mais do que no Datafolha: 40% a 37%.
Imediatamente, plasma-se uma espécie de “verdade”: a oposição teria parado de crescer, e Dilma, começado a subir. Especialistas dizem o óbvio: não se comparam pesquisas de institutos diferentes. Ocorre que a média das pessoas, como se sabe, não é formada de especialistas.
Há certa suspeição a cercar institutos de pesquisa. O Ibope, por exemplo, trabalha para o governo federal — fez um contrato para pesquisas quantitativas, cujo conteúdo é considerado “sigiloso”. Isso, por si, matematicamente falando, não macula a sua isenção. Ocorre que é bom não misturar carne com leite nessas coisas, não é?
Quanto mais transparentes forem as práticas, melhor para quase todo mundo. Fazer pesquisa enquanto está no ar o horário político de um partido não concorre para essa transparência. Fazer o campo em período diferente do informado também não.
Não estou entre aqueles que querem proibir divulgação de pesquisas. Acho isso obscurantista. Mas acho também que a gente precisa debater que instituto faz o quê. Acho um excesso de licenciosidade prestar serviços de “inteligência” ao governo e depois fazer pesquisas eleitorais cujos resultados são de interesse desse mesmo governo.
“Você está insinuando que o Ibope manipulou os dados?” Eu nunca insinuo nada. Eu só afirmo. E eu afirmo que o que vai acima não caracteriza uma boa prática — nem técnica nem política.
Por Reinaldo Azevedo
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