quarta-feira, 14 de maio de 2014

O ATO E O FATO


Brasilino Neto
“301”

Os leitores podem estranhar e achar que estou com o vocabulário mais restrito do que já é, pois na semana passada a publicação era “matéria sem título” e hoje coloco aqui um isolado “301”, mas ao final explico.

Considero que realmente falte seriedade a este país chamado Brasil, e nem faço referências quanto aos desmandos, faltas generalizadas de meios como segurança, saúde, educação, corrupção, gastos desnecessários e outras mazelas, e sim quanto a noticia que tomou conta das publicações especializadas, que guarda relação com a liberação pelo Ministério da Cultura de R$ 1.000.000,00 para que a escritora Patrícia Secco edite versões simplificadas dos livros “O Alienista” de Machado de Assis e “A Pata da Gazela” de José de Alencar.

É mesmo incompreensível, pois pretende a autora “descomplicar” as magníficas obras destes mestres, as reescrevendo de forma simplória e sem os assentamentos clássicos iniciais, sob o insólito argumento de que “O foco do projeto é a doação de livros para pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, constantemente excluídos do acesso à cultura. Trata-se de uma disputa entre o purismo e a democratização da leitura”, para que possam ser compreendidas pelos até agora “não-leitores”. 

Triste, a ideia, muito triste o argumento!

Serão 300.000 livros de cada autor para que estes excluídos da leitura conheçam por estes arremedos de obras que consumirão essa dinheirama, Machado de Assis e José de Alencar, cabendo aqui a afirmação popular de que “seria cômica se não fosse trágica” a concessão desta benesse, que pelo jeito que as coisas andam (ou desandam) neste país, podemos dizer tratar-se de uma ‘ação entre amigos’ ou de que a concessão se deu por se tratar de algum “amigo do rei (ou rainha)”.

Não compreendem estes luminares que despejam esta vultosa importância no ralo do desperdício, que os clássicos Machado de Assis e José de Alencar sejam lidos nos originais para aquisição de conhecimentos, capacidade de interpretação, lapidação do vocabulário e bem se prepararem para a vida, e que esta “descomplicação” em nada valerá como e para a cultura, mas sim somente de enriquecimento sem causa por parte de poucos, como se diz na linguagem do Direito. 

Trago aqui a solene afirmação feita pelo Historiador Sidney Chalhoub, Professor da UNICAMP, em matéria inserta no “Aliás-Estadão”, de 11.05.2014, sob o título “Quer moleza?” de que ‘Ora, não se aprende a ler Machado de Assis lendo menos que Machado de Assis’. É isto.

Eis então o porquê do título desta matéria ser “301”, pois entendo que ao contrário de 300.000 livros, bastaria a impressão de apenas 301 exemplares, pois certamente o número de leitores de insólita obra descomplicada, se chegar a “301”, dele não passará.

Agora aqui a adaptação de uma frase de um conhecido filósofo de nossos tempos à situação em comento: “Nunca neste país se viu tanto desperdício de dinheiro, nem tanto desrespeito com seus primordiais escritores”.

3 comentários:

Miriaklos disse...

São por estas roubalheiras é que devemos mesmo fazer guerra psicológica e ações de fato, como os movimentos sociais têm feito para que a copa seja um fiasco e o Brasil, o brasileiro e o mundo acorde para nossa triste realidade.

Anônimo disse...

Esse Miriaklos falou e disse tudo o que eu queria dizer. Parabéns. Não tem essa de patriotrada de que agora que está tudo preparado devemos deixar que aconteça e depois voltamos às reivindicações. Nada disso, o fiasco tem que ser agora mesmo para chamar a atenção do mundo. Já. Já.

Anônimo disse...

Pau na máquina.