domingo, 25 de maio de 2014

Dilma rebate Ronaldo e esquece arquibancada



Dilma ficou Rousseff da vida com Ronaldo. O ex-craque dissera estar “envergonhado” com os desacertos do Estado na preparação da Copa. E a presidente, abespinhada:

“Tenho certeza da nossa capacidade, do que fizemos, das nossas realizações. Não temos por que nos envergonhar. E não temos complexo de vira-latas, tão bem caracterizado por Nelson Rodrigues se referindo aos eternos pessimistas sempre.”

Dilma deveria desperdiçar um naco do seu tempo ouvindo o barulho que vem da arquibancada. Ronaldo não fez senão ecoar esses ruídos. E o fez de maneira até delicada, talvez por pertencer ao Comitê Organizador da Copa.

Pesquisa que o Datafolha realizou em São Paulo e trouxe à luz há dois dias oferece à presidente um kit básico de conhecimentos capaz de restaurar-lhe a audição. Eis os cinco tópicos essenciais:

1. Roubalheira: nove em cada dez paulistanos (90%) acreditam que existe corrupção nas obras da Copa. Apenas 6% acreditam que não há desvios.

2. Atrasos: três em cada quatro entrevistados (76%) avaliam que o Brasil não está preparado para receber a Copa. Mesmo entre os 22% que acham que o país está preparado há uma divisão. Nesse nicho, 9% dizem que o preparo é total. Para 13%, o Brasil está preparado apenas parcialmente.

3. Contra e a favor: nada menor que 43% dos entrevistados declararam-se contra a realização da Copa no Brasil. É uma taxa praticamente igual aos 45% que dizem ser a favor do evento.

4. Custo-benefício individual: para 59% dos paulistanos, a Copa trará mais prejuízos do que benefícios para si. Apenas 24% acham que os benefícios da Copa prevalecerão sobre os prejuízos.

5. Custo-benefício coletivo: para 66%, a Copa trará mais prejuízos do que benefícios para os brasileiros em geral. Outros 28% avaliam os benefícios à população serão maiores.

Pois bem. O que disse Ronaldo? Ele se queixou da “burocracia toda”, da “confusão”, do “disse-me-disse” e dos “atrasos”. E sapecou: “É uma pena. Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não podia estar passando essa imagem para fora.”

Quer dizer: foi mais um lamento do que uma crítica. Ronaldo está mais para realista do que para pessimista. Dilma evocou o “complexo de vira-lata” de que falava Nelson Rodrigues. Hummm!

O velho cronista também ensinou: “O brasileiro tem suas trevas interiores. Convém não provocá-las. Ninguém sabe o que existe lá dentro.”

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