O Globo
Malufar:
surrupiar, adulterar. Com prisão decretada nos Estados Unidos e todos os bens
bloqueados no Brasil e em seis países, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) virou
sinônimo de malfeitos no dicionário e chega aos 80 anos no próximo sábado
deixando ao país um legado de impunidade. Responde a três ações penais e a um
inquérito, que se arrasta há mais de cinco anos no Supremo Tribunal Federal
(STF), por supostos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação
de quadrilha e corrupção. Em São Paulo, é processado por improbidade, o que lhe
rendeu 41 dias de prisão e o bloqueio dos bens. Nada mais. Enquanto promotores e
procuradores aguardam, o deputado pode se beneficiar da idade, com a iminente
prescrição dos crimes. Responde a dezenas de processos. O mais grave diz
respeito ao sumiço de pelo menos US$ 344 milhões dos cofres paulistanos durante
sua gestão como prefeito (1993-1996). Nada disso, no entanto, será citado na
festa preparada por sua mulher, dona Sylvia, para celebrar seus 80 anos no
Teatro São Paulo.
Um dos escândalos mais antigos, a compra de Fuscas para a seleção da Copa de
70, ficou para a história. Maluf foi inocentado do crime de uso do dinheiro
público e não devolveu um só centavo. Também tem se livrado de outra denúncia, o
Frangogate, sobre a compra por parte da prefeitura de aves de uma empresa da
família Maluf.
Ex-prefeito biônico no governo militar (1969), quando governador, em 1971,
Maluf criou a Paulipetro, com US$ 500 milhões, e perfurou 69 poços na bacia do
Rio Paraná em busca de petróleo. Nada encontrou. Foi processado e condenado, mas
não houve reparação ao erário porque Maluf recorreu ao Superior Tribunal de
Justiça e as decisões foram suspensas. A todas as condenações, o ex-prefeito tem
interposto recursos atrás de recursos. Sua eleição para deputado colaborou com o
atraso nos julgamentos. Com o foro privilegiado, os processos "subiram" para o
STF.
- Costumo considerar esse caso quase didático, porque apresenta um esquema de
lavagem de dinheiro - diz o procurador Rodrigo de Grandis, do Ministério Público
Federal.
A história de desmandos com o dinheiro público não barrou a candidatura de
Maluf. Ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral considerou-o ficha suja, mas a
decisão foi revertida na instância superior. Contente, o deputado bradou que
tinha "a ficha mais limpa do Brasil". Hoje é membro da Comissão de Constituição
e Justiça da Câmara (CCJ) ao lado do homem que o prendeu, o deputado e delegado
federal Protógenes Queiroz.
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