Augusto Nunes
Faz 19 dias que a juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, foi assassinada com 21 tiros. Em quase três semanas, as investigações conduzidas pela delegada Marta Rocha produziram uma única prova relevante: os cartuchos encontrados no local do crime fazem parte de um lote comprado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. A descoberta não surpreendeu ninguém: até os bebês de colo, os doidos de hospício e os cretinos fundamentais sabem que Patrícia foi executada por mílicias chefiadas por bandidos fardados.
Também nada tem de surpreendente a malemolência dos sherloques encarregados de solucionar o claro enigma. O Rio removeu há muito tempo a fronteira demarcada pelo criminoso Lúcio Flávio Villar Lirio nos anos 70: “Polícia é polícia, bandido é bandido”. Como informa a epidemia de milícias, muitos PMs descobriram que nasceram para a bandidagem. Mas são protegidos pelo manto de corporativismo sempre que se metem em bandalheiras. Para quem vê as coisas como as coisas são, os fardados decaídos são tão suspeitos quanto os meliantes paisanos. Para os encarregados de investigálos, colegas suspeitos se transformam em suspeitos especiais.
O Tribunal de Justiça entregou à Divisão de Homicídios uma lista composta por 91 policiais militares para os quais Patrícia Acioli era não uma magistrada, mas uma ameaça ao direito de ir e vir. O ranking dos suspeitos é liderado por um oficial do 7º Batalhão da PM que andou rondando a 4° Vara Criminal de São Gonçalo na noite da execução. Numa conversa por telefone com sua advogada, o oficial soube que, por decisão de Patrícia, seria preso preventivamente em companhia de outros sete policiais militares acusados do assassinato de Diego de Souza Beliene, de 18 anos.
O governador Sérgio Cabral dispensou-se de comparecer ao enterro de Patrícia Acioli. Achou suficiente declarar-se “solidário com a família da vítima”. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, também se esqueceu de mandar flores. Achou suficiente garantir que os assassinos não demorariam a ser capturados. É improvável que os dois apareçam na missa de 30° dia. Espera-se que, até lá, a equipe de Marta Rocha procure na casa ao lado, e com mais animação, os autores do inverossímil atentado ao Estado Democrático de Direito.
A caça aos assassinos começou pela hipótese de crime passional. Pelo andar da carruagem, pode terminar com a descoberta de que ninguém matou Patrícia Acioli. Foi um caso de suicídio.
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