Estadão
Paulo Maluf, que vai celebrar 80 anos em 3 de setembro com pompa e estilo na
Sala São Paulo, negociou ao longo de quase um ano acordo com a promotoria de
Manhattan (EUA) para ter seu nome excluído do alerta vermelho, o lendário índex
dos mais procurados da Interpol em todo o mundo. Em troca, o ex-prefeito e
deputado pelo PP admitiria a autoria de um crime pela primeira vez na vida - no
caso, delito classificado formalmente de falsificação de registros contábeis
praticado nos Estados Unidos.
A confissão histórica se daria perante o Tribunal Criminal de Nova York e de
viva voz pelo réu. Sob a condição de não correr nenhum risco de ser algemado,
nem mantido em cela prisional, Maluf viajaria para a audiência nos Estados
Unidos.
Ele também estava disposto a declarar que "não tem interesse" em US$ 22
milhões do Macdoel Trust, na Ilha de Jersey - fundo controlado por três empresas
offshore cuja titularidade o Ministério Público de São Paulo atribui ao
ex-prefeito e ao filho mais velho de Maluf, Flávio.
Mas o pacto malogrou há duas semanas, à beira do ato final - assinatura do
documento pelas partes envolvidas, os defensores de Maluf, ele próprio e a
promotoria americana. Flávio, presidente da Eucatex, ficaria à mercê do
Ministério Público brasileiro para eventual ação de natureza penal.
O fracasso da negociação frustra planos da Prefeitura de São Paulo, que
pretende investir na área social recursos supostamente desviados de seus cofres
na gestão Maluf. A Procuradoria do Município já se havia manifestado
favoravelmente ao acordo, do qual a Prefeitura seria parte. O Município seria
consultado pela promotoria de Nova York por ser o destinatário final de valores
resgatados em Jersey. Advogados foram contratados no Reino Unido pelo governo
municipal para acompanhar o caso.
A história secreta do acordo que não deu certo reúne capítulos às vezes
marcados pela cautela, outros pela tensão. Foi um jogo de xadrez. De um lado da
mesa, advogados de renome e prestígio. Do outro lado, promotores que perseguem
com destemor a corrupção e a improbidade. Treze cláusulas compunham o ajuste
que, afinal, encalhou.
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