Fica todo mundo falando mal do Eduardo Cunha, mas na verdade ele é digno de pena. Não é fácil ser um vendedor de carne enlatada para a África. Está certo, dá dinheiro. Dá muito dinheiro. Dá dinheiro demais. E essa é uma das suas desgraças. Porque Eduardo Cunha, se não estiver ganhando dinheiro demais é um fracasso. Outros seres humanos gostariam de ter muito dinheiro. É normal. Mas Eduardo Cunha precisava de dinheiro em demasia. Era um prisioneiro da demasia, um dependente em demasia. E nem assim desperta qualquer simpatia da opinião pública. O mundo é insensível ao seu drama.
Eduardo Cunha deixou de ter direito a uma vida normal. É como aquelas pessoas que passam por tratamentos de desintoxicação. No seu caso, foi necessário distanciar-se do dinheiro. Encontrou Jesus, refugiou-se na política e mandou sua fortuna para a Suíça. Trancafiou-a num trust. Todo mundo tem conta bancária. Mas Eduardo Cunha não pode se dar ao luxo da normalidade. Em vez de correntista, ele é apenas “usufrutuário” da dinheirama que amealhou matando a fome dos africanos.
Na década iniciada em 1980, segundo seu próprio relato, Eduardo Cunha teve um suprimento regular e generoso do seu vício —a pecúnia demasiada. Agora, quando estava praticamente curado, servindo a Deus a ao país como deputado federal, vêm a Promotoria da Suíça, a Procuradoria da República brasileira e a Polícia Federal revolver o seu passado de Midas da carne enlatada. Ainda bem que há no mundo gente compreensiva e generosa.
Não é justo qualificar Dilma, Lula e o PT de tropa de elite de Eduardo Cunha. A criatura, o criador e o petismo estão apenas fazendo um trabalho humanitário. Socorrem alguém que, claramente, ainda não está preparado para lidar com a realidade.
Quem não é Eduardo Cunha não consegue entender o que é conviver com o lucro fabuloso e, depois de anos de demasia, mandar tudo para o inferno —ou para a Suíça, que pode dar no mesmo— e tocar a vida como deputado federal, membro da bancada evangélica. Merece comiseração, não condenação ou prisão.
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