Nunca se ouviu falar de velho que tenha descoberto a eterna juventude. Mas a juventude do PT, reunida em Brasília, demonstrou que existem jovens que já nasceram com a eterna senilidade. Fraquejando-lhes as faculdades mentais, os moços do PT cultuaram a banda presidiária do partido. Em brados e faixas, José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha, Delúbio Soares e João Vaccari Neto foram tratados como “guerreiros do povo brasileiro”.
Lula discursou para a rapaziada. Expôs um raciocínio que vem repetindo sempre que seus lábios encontram um microfone. Para ele, a imprensa pendura a corrupção nas manchetes porque deseja aniquilar a política. “Uma coisa que me preocupa nesse momento é a tentativa de vários setores dos meios de comunicação, de vários setores da sociedade, de induzir a sociedade brasileira a não gostar de política, de induzir a acreditar que a palavra política por si só está apodrecida”, disse.
Lula tem razão num ponto: a política, que já foi vista como a segunda profissão mais antiga do mundo, agora se parece muito com a primeira. Mas o que causa o fenômeno são os fatos, não o noticiário. Noutros tempos, a análise política exigia meia dúzia de raciocínios transcendentes. Era preciso decidir, por exemplo, se o pragmatismo do PSDB era melhor do que o puritanismo do PT, se a social-democracia responderia às dúvidas do socialismo, se a ética da responsabilidade prevaleceria sobre a ética da convicção…
Hoje, tudo ficou mais simples. Karl Marx e Max Weber tornaram-se descartáveis. Falidas as ideologias, a política rendeu-se sem ressalvas à lógica do negócio. Lula e o PT contribuíram muito para simplificação das coisas ao revelarem que, no poder, não estão imunes às tentações alheias, nem mesmo às alianças esdrúxulas e ao roubo. Ao aderir ao fisiologismo e à corrupção, nivelando-se à culpa comum dos outros, o petismo enterrou a pseudodiferença mágica, irmanando-se na abjeção.
No caso de Lula, o que mais assusta na sua marcha resoluta rumo à sarjeta não é a sensação de que ele se converteu num político igual aos demais. Espantosa mesmo é a impressão de que Lula se tornou um líder diferente de si mesmo —ou do que ele imaginava ser. A orgia que o morubixaba do PT experimentou no exercício despudorado do poder revelou-lhe os prazeres da liberação da sensualidade política. A volta à antiga condição, além de indesejada, é impossível. Castidade é como virgindade. Não dá segunda safra.
“Lula, eu quero ver você romper com o PMDB”, gritou a rapaziada a certa altura. E o orador: “Seria maravilhoso que a Dilma sozinha pudesse governar. Mas entre meu desejo ideológico e o mundo real da política tem uma distância.” Para garantir a governabilidade, disse o ancião da tribo, é preciso fazer alianças. Verdade. Mas Lula foi além. Não fez apenas alianças, fechou negócios. O PT não se coligou, formou sociedades partidárias com fins lucrativos, custeadas pelo déficit público.
“Fora já, fora daqui, Eduardo Cunha junto com Levy”, gritou a juventude do PT, sem se dar conta de que Lula é defensor do “Fica Cunha”. Bem verdade que o presidente da Câmara é acusado de participar do assalto à Petrobras. Mas Lula, que já havia decretado que o mensalão não passara de uma “farsa'', disse à juventude petista que o petrolão é apenas uma “tese”.
“Estão dizendo que companheiros nossos receberam dinheiro de propina, é apenas uma tese, eu quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado na sacristia”, disse Lula, para delírio da audiência. “Na Petrobras, tinha o cofre do dinheiro honesto, da propina. E o Vaccari [tesoureiro do PT preso na Lava Jato] só pegou do cofre do dinheiro sujo?”.
No seu próximo congresso, os jovens do PT decerto vão grudar na parede uma faixa nova: “Cunha, guerreiro do povo brasileiro.” Quem acredita que Vaccari é uma inocente criatura não terá dificuldades para aceitar como verdadeiro o lero-lero segundo o qual o aliado Cunha fez fortuna vendendo carne enlatada para a África, não comendo com as mãos dentro do cofre da Petrobras. A juventude do PT não perde por esperar. Ainda tem muito a desaprender com Lula.
Por Josias de Souza
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