Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
A exatos dez dias do início oficial da campanha, a presidente-candidata Dilma Rousseff deu mais uma demonstração clara de que suas pretensões eleitorais estão em primeiro lugar: o ministro dos Transportes, Cesar Borges, foi demitido nesta quarta-feira em troca do apoio do PR à sua chapa. Apontado como uma escolha pessoal de Dilma, Borges não foi demitido por incompetência. Mas o PR considerava que, com ele no cargo, as demandas do partido – sejam elas quais forem – não estavam sendo atendidas.
Com uma bancada de 32 deputados, a adesão do PR à candidatura de Dilma agregará um minuto e quinze segundos à propaganda eleitoral da petista no rádio e na televisão. A tendência do PR sempre foi a aliança com o PT no plano nacional, mas a indefinição da sigla – que só vai formalizar o apoio na segunda-feira – preocupava o Palácio do Planalto porque em alguns estados, como Minas Gerais, por exemplo, a sigla é aliada do PSDB de Aécio Neves. Além disso, o Planalto temia que se repetisse o caso do PTB, que deixou no sábado a coligação de Dilma para aderir à chapa do tucano.
Borges deverá ser acomodado na modesta Secretaria de Portos. O ex-ministro Paulo Sérgio Passos é o mais cotado para voltar a comandar o Ministério dos Transportes.
Durante o governo Dilma, o partido chegou a se rebelar e anunciar que estava deixando a base aliada. Em abril, a sigla chegou a divulgar um manifesto pedindo que o ex-presidente Lula concorresse no lugar de Dilma.
Escândalos – Em julho de 2011, reportagem de VEJA revelou um esquema de corrupção montado no Ministério dos Transportes sob o comando do PR. O partido cobrava 4% de propina de empreiteiras interessadas em contratos com o governo. O esquema tinha como coração o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec, estatal das ferrovias. A maior parte do dinheiro ia para o caixa do PR, sob a direção do então ministro Alfredo Nascimento e do deputado Valdemar Costa Neto. O restante era destinado aos parlamentares dos estados em que as obras eram – ou deveriam ser – feitas. Segundo os auditores da CGU, 682 milhões de reais foram desviados. A Polícia Federal abriu 79 inquéritos sobre os desmandos na pasta, e 55 servidores públicos foram investigados. O escândalo derrubou o ministro, seu chefe de gabinete (Mauro Barbosa), os chefes do Dnit (Luiz Antonio Pagot) e da Valec (José Francisco das Neves, o Juquinha) e mais de 20 funcionários da pasta. Em 2013, o partido retomou o controle da pasta, com a escolha de César Borges como ministro. Em agosto de 2013, parecer da Procuradoria-Geral da República acabou liberar Nascimento e o mensaleiro Costa Neto das acusações de liderar o esquema criminoso. Segundo parecer do procurador Roberto Gurgel, as provas colhidas ao longo da investigação não são suficientes para incriminar a dupla. O parecer foi remetido ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, relator do processo.
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