sexta-feira, 13 de junho de 2014

Triunfo com sufoco e gol afanado é ótimo aviso



Só os analfabetos em alma humana não perceberam que o Brasil obteve contra a Croácia a maior vitória que poderia ter arrancado numa estreia de Copa. Digo ‘maior’ porque a seleção venceu sem show. O triunfo sem apoteose decerto deixou muita gente aborrecida. Mas anote aí: coisa melhor não poderia ter sucedido.

Imagine se, por absurdo, o escrete tivesse prevalecido de goleada. Pense na hipótese de a seleção atropelar também México e Camarões. Nas fases seguintes, iríamos enfrentar rivais como Espanha e Alemanha com o rei injetado no estômago. Ou, por outra: contra os gigantes, entraríamos em campo com uma sensação mortal de invencibilidade.

Seria arriscadíssimo! Melhor tomar imediatamente um banho de realidade. Dizia-se que a retaguarda brasileira era extraordinária. E Marcelo, escorando chute perdido deFulanovic, marcou gol contra. Fred não viu a bola. Mas, tocado inofensivamente porBeltranovic, o centro-avante ruiu cenograficamente. Cavou um pênalti sem precisar gritar ‘mãos ao alto!’.

Quem foi o melhor em campo? Oscar. Logo ele, que atravessara a semana sob ameaça de ser barrado por Felipão, abrindo vaga para o reserva Willian. Pois foi este o nome do jogo. Uma evidência de que, quando submetidos à evidência de que estão sujeitos à condição humana, nossos craques podem virar anjos.

Subtraindo o gol afanado, o Brasil teria batido a Croácia por uma diferença magra: 2 X 1. E olhe lá! Resultados esquálidos deixam o torcedor brasileiro com o pé atrás. A desconfiança aumenta se, no meio de um jogo contra uma seleção de segunda classe, o país inteiro -da Dilma ao vendedor de picolé- fica mordendo os lábios com medo de um desastre.

Em 1950, perdemos a Copa no Maracanã porque, nas pegadas de uma goleada na Espanha, o Brasil entrou em campo imaginando-se um campeão de véspera. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, sobrevive até hoje como uma humilhação nacional. Assim, é melhor guardar o show de bola para a grande final. Isso, claro, se os mortais do escrete sobreviverem até lá.

Nenhum comentário: