Roberto Barroso: um homem de olhar penetrante e juízos heterodoxos |
Se Romeu Queiroz e Rogério Tolentino quiserem trabalhar fora, vão ter de fazer como José Dirceu e Delúbio Soares: inventar um emprego para enganar a Corte. Aí o ministro Barroso topa. O ministro, que já confessou curtir Taiguara e Ana Carolina, certamente conhece Cazuza… Deve cantarolar por aí: “Mentiras sinceras me interessam/ me interessam…”. Até lamento associar um roquinho bacana da década de 80 a Barroso, que vem de décadas muito anteriores, do tempo em que o direito servia mais a um pensamento, a uma ideologia, do que ao império do texto legal.
Então vamos ver: com base na decisão tomada ontem por expressiva maioria do Supremo — 9 a 1 —, ele liberou para o trabalho externo também Delúbio Soares, aquele que sabidamente gozava de privilégios na cadeia, o que está fartamente demonstrado, desrespeitando um dos requisitos para o trabalho externo, que é justamente o bom comportamento do “apenado”, como diria o ministro, que gosta de rasgos poéticos.
Certo! Mas Romeu Queiroz e Rogério Tolentino, ah, esses não! O primeiro queria trabalhar na própria empresa e contratar o outro. É esquisito? É, sim. Mas é muito mais esquisito do que Delúbio trabalhar na CUT??? Ora, tenham a santa paciência! Na central, Delúbo é chefe, com direto a motorista particular e tudo. Ocupa-se lá exatamente do quê? Quem tem condições de vigiar as suas tarefas? Está fazendo na central o que sempre fez: política. E Dirceu como contínuo interno de um advogado estrelado, ganhando R$ 2,1 mil por mês — o que, dados os seus padrões, digamos, de consumo social não serve nem para cobrir a cova do dente. Desculpo-me por usar uma metáfora pré-programa Brasil Sorridente… Hoje, como a gente sabe, não há mais desdentados no Brasil, certo? Sumiram por um decreto político do PT.
É interessante a forma, digamos, combativa como Barroso entende as leis. Por alguma razão, desde a raiz do seu raciocínio, os petistas acabam sempre beneficiados. “Ah, e no caso de Genoino?” Bem, no caso de Genoino, ele sabia que iria perder e não quis agasalhar a derrota. Afinal, depois do escândalo protagonizado pelo advogado Luiz Fernando Pacheco, não havia chance de o pleito ser aprovado. Mas não se esqueçam de que, mais uma vez, Barroso transformou Genoino num herói. Com a negativa para o trabalho externo de Queiroz e Tolentino, o ministro só demonstra preconceito contra a inciativa privada.
Em suma, às respectivas defesas desses dois não petistas, só resta apelar mais uma vez, inventando, desta feita, um trabalho externo à moda Delúbio e Dirceu. Se o tribunal tivesse negado o pleito dos petistas, a esta altura, a crônica política livre como um táxi estaria escandalizada. Pelos outros dois, não se vai derramar um miserável adjetivo. Ou vocês viram alguém com peninha de Roberto Jefferson, por exemplo? Ao contrário: fez-se blague de suas restrições alimentares. Ninguém liga para a suas entranhas. Já o sistema circulatório do ex-presidente do PT parece assunto de segurança nacional.
Por que os petistas não propõem logo uma emenda constitucional deixando claro que os membros do partido não são pessoas comuns, como as outras, como nós? E olhem que haverá juízes, também fora do Supremo, que iriam concordar, não é? Jamais me esquecerei de um manifesto da tal Associação Juízes para a Democracia, que escreveu para escândalo da história:
“Não é verdade que ninguém está acima da lei, como afirmam os legalistas e pseudodemocratas: estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios constitucionais e que, por isso, rompendo com o estereótipo da alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar o seu ousio e a sua juventude a serviço da alteridade, da democracia e do império dos direitos fundamentais”.
Ora, os petistas, como sabemos, sempre estão lutando por direitos, não é mesmo? Que sejam declarados logo homens acima da lei. E ponto e basta!
Por Reinaldo Azevedo
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