quarta-feira, 18 de junho de 2014

Por Sarney, Lula trama contra PSB de Campos



A foto acima exibe o exato momento em que o PT do Amapá, reunido em encontro estadual, aprovou há quatro dias a renovação da aliança com o governador Camilo Capiberibe, do PSB do presidenciável Eduardo Campos. Capiberibe concorre à reeleição. O petismo local indicou para a chapa a candidata ao Senado: Dora Nascimento, atual vice-governadora. Tudo isso pode ser anulado. Lula não gostou.

Para o Senado, Lula deseja que o PT do Amapá apoie a recandidatura de José Sarney (PMDB), a “velha raposa” que Eduardo Campos gostaria de “aposentar”, para evitar que continue “roubando os sonhos” dos brasileiros. Para o governo estadual, Lula prefere que o PT amapaense entregue o seu tempo de propaganda no rádio e na tevê a Waldez Góes (PDT), não a Capiberibe.

Após ter sua candidatura ao Senado referendada pelos companheiros, a petista Dora Nascimento referiu-se à intenção de Sarney de renovar o mandato de mais de duas décadas de senador pelo Amapá como “uma reflexão de 24 anos que precisa ser revista”. Imaginando-se uma candidata irreversível, ela soou peremptória: “Temos uma aliança com o PSB, e temos o mesmo objetivo, que é o de resgatar o mandato deste povo.”

O mal do PT do Amapá foi desconsiderar um detalhe: o partido pode ter muitas cabeças, mas revela-se desmiolado sempre que esquece que é comandado por uma cabeça só. Vítima da mesma confusão mental, o petismo do Maranhão associara-se à candidatura de Flávio Dino (PCdoB) ao governo local. Por ordem de Lula, o PT federal providenciou a meia-volta, empurrando o seu diretório maranhense para a canoa de Lobão Filho (PMDB), o candidato autorizado pelo clã Sarney.

Sucede a mesma coisa no Amapá. Ali, para contentar Sarney, seu amigo de infância desde a campanha presidencial de 2002, Lula defende o retorno ao poder de Waldez Góes, que já governou o Estado por dois mandatos, iniciados em 2003. Lula se dispõe a emprestar o seu prestígio a despeito da biografia tóxica do personagem.

Em 2010, de saída do cargo de governador, Góes lançou-se ao Senado. Exibia em sua propaganda eleitoral um vídeo com mensagem de apoio de Lula. Súbito, na reta final da campanha, a Polícia Federal prendeu o candidato. Góes foi ao cárcere numa operação batizada com o sugestivo nome de Mãos Limpas. Acusado de desviar verbas federais, ele foi denunciado pelo Ministério Público.

Uma notícia divulgada nesta terça-feira (17) no site da Procuradoria-Geral da República indica que Góes tornou-se uma espécie de freguês de caderneta dos órgãos de controle. Ele acaba de ser denunciado novamente pelo Ministério Público Federal, no Amapá. Dessa vez, acusam-no de sonegar ao INSS R$ 120 mil em contribuições previdenciárias retidas de uma firma de segurança contratada pelo Estado durante a sua gestão.

Em caso de condenação, informa a Procuradoria, Góes terá de ressarcir o dano, acrescido de multa. De resto, pode ter os direitos políticos suspensos por 10 anos. Nessa ação, o ex-governador responde por improbidade administrativa. Mas os mesmos fatos renderam-lhe uma ação penal. Corre desde 2011. Se for condenado, Góes pode pegar até cinco anos de cadeia.

Não é só: no último dia 2 de junho, a Justiça do Estado do Amapá condenou o protegido de Sarney e Lula num esquema semelhante. Nos dois últimos anos do seu mandato de governador, 2009 e 2010, Góes deixou de repassar valores retidos de servidores públicos para cobrir empréstimos consignados.

Nenhum comentário: