sábado, 10 de junho de 2023

Mudar para ficar igual



O governo Bolsonaro foi um desastre semelhante ao de Dilma Rousseff com sinal político e ideológico trocado

Brasileiros e estrangeiros têm enorme dificuldade para entender os caminhos da política no Brasil. O futuro é apenas uma aposta e o passado se modifica ao sabor das conveniências do presente. No plano institucional tudo muda, tudo é fluído. As normas se adaptam ao sabor das conveniências de grupos de pressão, sejam familiares ou econômicos. Não há segurança jurídica. Ocorre, então, o desenvolvimento do subdesenvolvimento porque as classes dominantes, mesmo as dos trabalhadores, não pretendem enfrentar os desafios do mundo novo. É melhor mudar tudo para que a situação permaneça exatamente como está.

Não se trata de literatura, ficção ou crônica política. É fato. A operação lava-jato vai entrar para a história do Brasil como o maior esforço já realizado no país para combater a corrupção, digamos institucionalizada, que grassava em vários níveis da administração federal. No governo da presidente Dilma Rousseff, a diretoria da Petrobras autorizou a compra de uma refinaria no Texas, velha e mal conservada, por milhões de dólares quando o equipamento valia cerca de dez por cento do valor pago. Foi vendida em seguida gerando enorme prejuízo para a petroleira brasileira.

A operação Lava Jato começou a operar por volta de 2014 no Paraná e teve na pessoa do juiz Sérgio Moro seu maior expoente. Agentes públicos, doleiros, empresários de vários níveis começaram a ser investigados para apurar irregularidades, desvios de verba e outras pérolas na petroleira. Foi um festival de prisões e revelações capazes de fazer corar frade de pedra. Diretores da empresa devolveram milhões de dólares para os cofres da empresa. Imóveis foram recuperados e valiosas obras de arte, utilizadas para lavar dinheiro, foram apreendidas e encaminhadas ao Museu de Curitiba.

O Ministério Público Federal conseguiu comprovar enorme esquema de corrupção na Petrobras. As grandes empresas, organizadas em cartel, pagavam propina aos executivos da estatal para serem incluídos nos projetos da empresa. Este é um esquema chamado de “combinemos”. Os sócios informais se articulavam e apontavam o vencedor que, posteriormente, iria sublocar os trabalhos para as outras. Esse grupo se revezava tanto no pagamento da propina quanto na distribuição dos negócios. Todos ganhavam e sangravam a petroleira nacional. No período Dilma Rousseff, a Petrobras praticamente estacionou na produção de petróleo e viu sua dívida aumentar várias vezes.

Ninguém negou até hoje que, de fato, tenha ocorrido um gigantesco esquema de desvio de verbas na Petrobras através das diretorias cujos responsáveis eram indicados por partidos políticos. Muito dinheiro retornou aos cofres da empresa. Mas os acusados foram, um por um, sendo libertados por intermédio de sentenças judiciais baseadas em surpreendentes exegeses jurídicas. No auge da caça aos corruptos, alguns destacados parlamentares chegaram a proclamar a necessidade de parar a apuração de responsabilidades para não prejudicar a política no Brasil. Na Itália, a operação mãos limpas de certa forma provocou a reorganização do sistema político do país. E permitiu a ascensão de Berlusconi e sua turma.

Aqui aconteceu algo parecido. A eleição de Bolsonaro é resultado direto do desastre da administração petista, sobretudo no período Dilma Rousseff. A corrupção correu solta. Em São Gonçalo, no estado do Rio, subúrbio de Niterói, enorme área foi preparada para receber uma refinaria de petróleo. As obras civis chegaram a ser iniciadas, mas nada aconteceu. O dinheiro sumiu. No Maranhão também fizeram algumas obras numa área imensa para outra refinaria que se evaporou. E a de Pernambuco, que seria construída em sociedade com a PDVSA, venezuelana, teve seu projeto reduzido porque não entrou um único centavo do governo Maduro, este personagem que foi recebido com honras de chefe de Estado, mês passado, pelo presidente Lula.

Essa é uma rápida síntese dos fatos. O governo Bolsonaro foi um desastre semelhante ao de Dilma Rousseff com sinal político e ideológico trocado. O capitão não tinha competência, conhecimento, nem experiência para ocupar a Presidência da República. Sua hesitante trajetória política permitiu que os vencidos de ontem se transformassem nos vencedores de hoje. E ainda transitou perigosamente pela tentação do golpe de estado apoiado por militares extremistas. As portas das prisões se abriram e os acusados estão livres, leves e soltos participando da política nacional. Até Sergio Cabral, que jamais alegou inocência, está em casa fazendo programas nas redes sociais. Os que fizeram a lava jato, naturalmente, estão a caminho do cadafalso. Deltan Dallagnol foi apenas o primeiro.

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