quinta-feira, 22 de junho de 2023

Advogado defende Bolsonaro desqualificando-o


Advogado de Bolsonaro Tarcísio Vieira de Carvalho Neto

Escolhido para representar Bolsonaro no julgamento em que o TSE deve expurgá-lo das urnas até 2030, o advogado Tarcísio Vieira de Carvalho Neto adotou uma estratégia inusitada. Optou por defender o seu cliente desqualificando-o. Sustentou que as mentiras contadas por Bolsonaro a mais de 70 embaixadores estrangeiros reunidos no Alvorada em julho de 2022 não foi parte de um plano para virar a mesa da democracia. Tratou-se apenas de um golpe contra a língua portuguesa.

Na versão do doutor, os ataques infundados de Bolsonaro contra o sistema eleitoral constituem mero exercício da liberdade de expressão. Admitiu que Bolsonaro, com dificuldade de se expressar, "fez uma fala forte e desinibida, talvez em tom inadequado e ácido." Qualificou a reunião de "franciscana". Além de inverdades sobre o sistema eleitoral, foram servidos "café, pão de queijo e suco". Abstraindo o prejuízo institucional, o custo para a República foi de R$ 9 mil.

O advogado considera absurda a tese segundo a qual a reunião com os embaixadores ajudou a atiçar o 8 de janeiro. Questiona a inclusão no processo da minuta golpista encontrada posteriormente no armário do ex-ministro Anderson Torres. Lembra que, para livrar a chapa Dilma-Temer da cassação, em 2017, o TSE desconsiderou provas do uso de dinheiro sujo da Odebrecht na campanha.

"Se o presidente é habilidoso ou não no uso do vernáculo, isso não está em julgamento", disse o advogado a certa altura. Para ele, o TSE poderia no máximo multar Bolsonaro pelas "falas de conteúdo desinformacional", eufemismo para difusão de falsidades. Mal comparando, a defesa deixou Bolsonaro numa posição parecida com a de um personagem secundário da peça Júlio César, de Shakespeare.

Cercado por uma turba que suspeitava de sua participação no assassinato do imperador, o sujeito ouviu um grito: "Matem-no". Alguém retrucou: "Mas este é Cinna, o poeta." Sobreveio a sentença: "Então, matem-no pelos maus versos." Levando a defesa a sério, o TSE teria que condenar Bolsonaro à inelegibilidade de oito anos pelo mau português.

Nenhum comentário: