sábado, 3 de junho de 2023

Moro, mais do que Lula, foi quem entregou a Zanin uma cadeira no STF



Sergio Moro talvez não tenha percebido, mas servirá como cabo eleitoral involuntário de Cristiano Zanin, indicado por Lula ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, durante a sabatina no Senado Federal. Será um irônico desfecho para quem praticamente empurrou Zanin para o cargo.

O ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, que perdeu muito de seu prestígio após serem reveladas mensagens de que ele combinou o jogo da condenação de Lula com procuradores da força-tarefa da Lava Jato, tornou-se um lembrete vivo da criminalização da política.
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Em contraposição, o garantista Zanin caminha para o STF exatamente por se destacar nos embates jurídicos travados com Moro, com o Tribunal Regional Federal da 4ª Região e com o próprio Supremo.

Não estou aqui discutindo se Lula deveria ou não ter indicado o seu advogado pessoal para o cargo, apenas entendendo o contexto político em que a indicação será analisada pelo Senado.

Caso a operação de combate à corrupção tivesse seguido as regras, sem promiscuidade entre acusadores e julgador, com o respeito ao devido processo legal e à ampla defesa e sem politização das condenações, Zanin nunca teria sido alçado à posição que está hoje.

É irônico. Moro, que sempre desejou uma cadeira no STF e chegou a ser considerado um candidato natural à vaga, é quem abriu caminho para Zanin ocupar essa posição.

Pois alguém imaginava em 2018 Zanin ministro do tribunal?

Não nos é dado o poder de prever as voltas que o mundo dá. Lula (que foi duas vezes presidente, elegeu e reelegeu sua sucessora, permaneceu 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal, viu Bolsonaro ser eleito e indicar Moro ministro da Justiça, foi solto, teve sua condenação anulada, assistiu Moro ser declarado parcial e foi eleito novamente presidente) pode confirmar isso. Então, é difícil saber se, um dia, o ex-juiz chegará ao STF.

Mas, por hoje, ele é um alerta aos seus colegas de parlamento, governistas, oposicionistas e do centrão, do que acontece quando a Justiça se desvia e ataca a política, o que ajudará Zanin na sabatina.

Ao mesmo tempo, ele pode nem terminar o mandato. Um processo em curso no Tribunal Regional Eleitoral no Paraná analisa se a sua candidatura ao Senado cometeu abuso de poder econômico. Se o TRE ou o TSE acharem que sim, ele voltará a advogar. Talvez para defender um Bolsonaro condenado pela Justiça?

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