quinta-feira, 29 de junho de 2023

Bolsonaro faz excursão a caminho do inferno abraçado às Forças Armadas



O ministro Benedito Gonçalves, algoz de Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral, avalia que as Forças Armadas tiveram "papel central" na estratégia do capitão para confrontar a Justiça Eleitoral. Foi o que disse no voto que conduzirá o ex-presidente à inelegibilidade. Para ele, Bolsonaro apresentou-se aos embaixadores estrangeiros na fatídica reunião de julho do ano passado como presidente incivilizado de um governo militarizado.

Guiando-se pelas provas que recebeu de bandeja do próprio Bolsonaro, Benedito concluiu que o investigado discursou para os embaixadores como se fosse "um militar em exercício à frente das tropas". O ministro apresentou em seu voto uma contabilidade reveladora. Na fala aos diplomatas estrangeiros, Bolsonaro "mencionou Forças Armadas 18 vezes". Citou democracia apenas quatro vezes, nenhuma delas de forma lisonjeira.

Na percepção do relator do TSE, as palavras de Bolsonaro revelaram um "descaso em relação à conquista democrática" representada pela "sujeição do poderio militar brasileiro à autoridade civil democraticamente eleita." Paradoxalmente, Benedito referiu-se a um par de civis que lançaram Bolsonaro ao mar durante a investigação eleitoral.

Arrolados como testemunhas de defesa, o ex-chefão da Casa Civil Ciro Nogueira e o ex-chanceler Carlos França lavaram as mãos quando indagados sobre a participação no convescote antidiplomático. Ciro declarou que o encontro era "evitável". Lamentou que tenha ocorrido. Disse ter plena confiança no sistema eleitoral.

França blindou o Itamaraty. Atribuiu a Bolsonaro a idealização do encontro. Disse que a chancelaria limitou-se a expedir os convites e a providenciar a tradução simultânea.

No escurinho do processo, até um ex-auxiliar fardado, o almirante Flávio Rocha, que chefiou a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, disse ao TSE que sua função no governo era "pensar o Brasil do futuro". Eximindo-se de encrencas, sustentou que não teve conhecimento prévio das declarações mentirosas que o ex-chefe despejou diante dos diplomatas.

Ao constatar que nem as testemunhas de defesa se animaram a defender Bolsonaro, Benedito concluiu que o investigado "foi integral e pessoalmente responsável pela concepção intelectual do evento objeto da ação." Quer dizer: não fosse pela companhia presumida dos seus militares de estimação, o candidato à inelegibilidade estaria só.

O capitão Bolsonaro nunca foi um cultor das instituições democráticas. Nos seus quatro anos de Presidência, sempre que quis desafiar o Judiciário, envolveu em suas crises o que chamava de "minhas Forças Armadas". Agora, realiza sua excursão a caminho do inferno no Tribunal Superior Eleitoral abraçado aos militares.

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