quarta-feira, 14 de junho de 2023

Lira em seu delírio sugere que Lula diga já se disputará em 2026


Vista da rampa do Palácio do Planalto, sempre um destaque nas cerimônias de posse. Lula a subiu não faz ainda seis meses, mas Lira anda tendo delírios... Imagem: Depositphotos

Arthur Lira (PP-AL) continua empenhado em governar o Brasil em lugar de Lula, a exemplo do que fez na gestão de Jair Bolsonaro. O deputado cuidava da cozinha, enquanto o presidente tentava viabilizar um golpe de Estado e nos fazia passar vergonha mundo afora. Bem, o atual chefão da Câmara já não esconde as suas pretensões de ser o condestável da República; confessa isso em entrevista; revela que sugere ao mandatário troca de ministros; repete suas críticas à articulação política e diz uma sandice de tal magnitude que, acho eu, tem de ser interpretada pelos analistas. Não como coisa em si — já que não faz nenhum sentido —, mas por alguma intenção secreta que ela esconde.

Em entrevista ontem à noite à GloboNews, afirmou o seguinte disparate:
"O fato de o presidente Lula não ter explicitado até hoje se é candidato à reeleição ou não gera, do meu ponto de vista, muitos pré-candidatos dentro do próprio PT. Isso não ajuda na administração do governo. Porque há uma aparente dificuldade de relacionamento de A, B, C, D ou E".

Que coisa! Lula não concluiu ainda nem o sexto mês de mandato. Vamos fazer de conta que Lira leva a sério a bobagem que disse. Vejamos. Se o presidente declara "sou candidato à reeleição", tudo o que fizer ou propuser será lido por tal lente: "Ah, ele já está empenhado em um segundo mandato". Seria um presente e tanto para a oposição, que, convenham, até agora, não conseguiu encontrar nem mesmo uma palavra de ordem para agitar as redes. Precisa ficar à caça de cartazes da Parada LGBT ou fabricar crispações em CPIs para atiçar os cachorros loucos. E, de resto, qualquer pessoa razoavelmente informada sobre as disposições de Lula sabe que, com efeito, ele realmente não está se ocupando do caso agora. E seria mesmo uma insanidade fazê-lo.

Mas vamos seguir: digamos que Lula afirmasse, de maneira peremptória e incontestável, que não disputará a reeleição. Aí, sim, o suposto mal que Lira aponta poderia ganhar volume: se o líder inconteste do PT, que será candidato de novo se quiser, diz, desde já, ser essa uma impossibilidade, aí, sim, é que se deflagraria uma corrida. E não apenas dentro do PT. A base, já hoje com muitas tensões, tenderia a entrar em ebulição.

Dissesse "sim" ou "não", Lula estaria dando o tiro inicial da corrida sucessória antes mesmo de completar seis meses de mandato.

O que Lira pretende? Burro, obviamente, ele não é. Tampouco inexperiente. Parece-me, pois, que essas críticas que faz à "articulação política" são mero pretexto para uma exigência que seria sua. Mas qual é o jogo que está lá na sua cachola? Vamos a hipóteses:
- Lula se declararia candidato, e ele, Lira, passaria a ser uma espécie de articulador da reeleição? Pouco provável;
- Lula se declararia candidato, e ele, Lira, começaria imediatamente a organizar o campo da reação -- dos reacionários, mesmo, eu quis dizer. Não é improvável, mas muito difícil.
- Lula se declararia candidato, e ele, Lira, cobraria um preço ainda mais alto pela estabilidade do "resto" do mandato.

E se fosse o contrário? "Candidato não sou!" A que folguedos se entregaria o presidente da Câmara? Iria se colocar como um fiel escudeiro de algum ungido pelo atual mandatário? Não parece razoável. Confiaria a si mesmo a tarefa de buscar um nome alternativo para o campo da direita? A coisa é tão despropositada que suas possíveis motivações vão para o terreno do insondável. O que é certo? Ele não aceita ser "apenas" o presidente da Câmara, que é o segundo cargo mais poderoso da República.

HADDAD NA COORDENAÇÃO POLÍTICA
Na entrevista, sem receio, ele afirma que sugeriu a troca da coordenação política. Gostaria de ver no cargo o ministro Fernando Haddad, da Fazenda. Disse:
"Eu tive um café da manhã há uma semana com o presidente Lula. No meio da conversa, eu fiz a ele uma pergunta: 'O sr. pensa em ter a possibilidade de o ministro Haddad ir para a Casa Civil e o [Gabriel] Galípolo ficar na Fazenda?".

E qual teria sido a resposta do interlocutor. Esta:
"O presidente Lula de imediato disse 'não'. Haddad fica na Fazenda, e o Galípolo [que é secretário-executivo da Fazenda] vai para o Banco Central. A partir daí a conversa sobre ministérios cessou."

Já imaginaram? Haddad está empenhado em aprovar o novo arcabouço fiscal. O titular da Fazenda e Lira acabaram desenvolvendo uma conversa fácil — o deputado o elogiou mais uma vez —, mas imaginem o potencial de turbulência que teria uma troca neste momento.

Se o ministro é hoje tido como confiável pelos tais "mercados", e é certo que essa confiança foi sendo conquistada, qualquer que fosse o substituto, viria turbulência. Mas justo agora, quando há sinais positivos na economia e até Roberto Campos Neto reconhece que é preciso reduzir os juros? Ele só não sabe quando, claro...

Olhem o desassombro com que Lira vai ao pote. Confessa que, por ele seriam promovidas alterações na Fazenda e na coordenação política. É evidente que sua entrevista tem ao menos dois alvos: Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, e Rui Costa, titular da Casa Civil.

E o presidente da Câmara ainda teve tempo de posar de intocável, sugerindo dispor de arsenal para atingir o governo. E o fez quando indagado se achava que a investigação sobre o caso dos "kits" de robótica busca atingi-lo. Respondeu de pronto:
"Não acho, não. Se eu achasse, as coisas já não estavam como estão."

Quais coisas não estariam como estão"? A investigação em si? O governo? Ele diz um "já não estavam" como a sugerir que teria poder para interferir na realidade. Em qual? Na investigação conduzida pela PF?

Qual a hipótese de vocês? O que, afinal de contas, quer Lira e o que esconde a sua diatribe sobre eleição? A besteira não pode ser tomada, por óbvio, pelo valor de face.

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