Presidente ressalta placar da decisão e orienta discurso para as reformas
Com um sorriso no rosto, logo após o término da votação na Câmara, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento na noite desta quarta-feira e disse que a manifestação da Câmara não significa uma "vitória pessoal" sua, e sim uma conquista da democracia. O presidente afirmou que os deputados se posicionaram de forma "clara e incontestável" e chamou a decisão de "eloquente".
— A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do estado democrático de direito, da força das instituições, e da própria Constituição. O poder da autoridade, tenho repetido isso, emana da lei — disse o presidente.
A fala de Temer durou sete minutos e meio. Desta vez, ao contrário dos pronunciamentos que fez para se defender das acusações da delação da JBS, os deputados não ficaram próximos ao púlpito. O grupo ficou em um "cercadinho", fora das imagens de fotógrafos e cinegrafistas que focavam o peemedebista.
Temer fez questão de ressaltar que venceu com folga, com votos acima do mínimo necessário, que era de 172 apoios. E afirmou que, superada a denúncia, é hora de seguir com as "ações necessárias" para o país, referindo-se às reformas.
— Todos devem obedecer a lei e a Constituição. São os princípios do direito que nos garantem a normalidade das relações pessoais ou institucionais. Hoje, esses princípios venceram com votos acima da maioria absoluta na Câmara dos Deputados. E é diante dessa eloquente decisão que eu posso dizer que agora seguiremos em frente com as ações necessárias para concluir o trabalho que meu governo começou há pouco mais de um ano. Estamos retirando o brasil da mais grave crise econômica de nossa história — afirmou Temer.
Em tom conciliador, Temer disse que "erram" aqueles que pretendem "dividir os brasileiros".
— Aqueles que tentam dividir os brasileiros erram. Todos nós somos brasileiros, filhos da mesma nação, detentores dos mesmos direitos e deveres.
— Vamos trabalhar juntos pelo Brasil — finalizou o presidente.
O peemedebista disse que quer "construir" com cada brasileiro um país pacificado, "sem ódio ou rancor" ou "muros que nos separam". Ele voltou a dizer que seu governo — após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff — atravessa uma "ponte". Críticos da gestão Temer, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no ano passado, já valeram-se de ironizar a "ponte" como "pinguela", sugerindo que a travessia, ou o mandato completo, não seria possível. O PMDB assumiu a Presidência com Temer baseado no documento "Ponte para o futuro", que serve de diretriz ao governo.
— Quero construir, com cada brasileiro e cada brasileira, um país melhor, pacificado, justo, sem ódio ou rancor. Nosso destino inexorável é ser um grande país. Portanto, é preciso acabar com muros que nos separam e nos tornam menores. É hora de atravessarmos juntos a ponte que nos conduzirá ao grande futuro que o Brasil merece.
O presidente adotou um tom calmo, em clara oposição aos dois pronunciamentos que fez rebatendo as gravações de Joesley Batista, dono da JBS. Sem citar nomes, Temer disse que seguirá sem dificultar a ação da iniciativa privada, mas "honesta", pontuou. O peemedebista já chegou a chamar o empresário de "bandido notório" desde a eclosão da delação da JBS.
— Nesses últimos tempos, temos praticado muitos atos de desburocratização da administração pública brasileira. E o governo deve também criar condições para que o emprego nasça num ambiente econômico propício. Sem jamais impedir ou criar obstáculo à iniciativa privada honesta e empreendedora.
Logo após mencionar a decisão da Câmara de barrar a denúncia por corrupção passiva contra si, o presidente da República afirmou que a democracia é violada quando a Constituição é extrapolada. Ainda, classificou de "soberana" a posição dos deputados. Há a expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente mais uma denúncia contra o presidente, que ainda é investigado no Supremo Tribunal Federal por organização criminosa e obstrução de Justiça.
— A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja. Mas é uma conquista do Estado democrático de direito. Da força das instituições e da própria Constituição. O poder da autoridade, tenho repetido isso com muita frequência, emana da lei. Extrapolar o que a Constituição determina é violar a democracia.
O governo conseguiu sepultar a denúncia por 285 votos, juntando apoios, ausências e abstenções, que também favorecem Temer. Foram 227 votos contrários a livrar o presidente de ser julgado pela denúncia de corrupção passiva.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer não conseguiu o aval de dois terços da Câmara e foi, portanto, barrada no plenário da Casa nesta quarta-feira. Os votos a favor de Temer, somados às ausências e abstenções, somaram mais de 172, inviabilizando o número mínimo de 342 votos para a continuidade da denúncia. O parecer do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), contrário à instauração de processo criminal contra o presidente, foi aprovado no plenário.
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