A advogada Guiomar Feitosa Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes, comparou o pedido de suspeição feito pela Procuradoria-Geral da República contra seu marido a um suplício. Em conversa com o blog, ela chegou mesmo a utilizar o vocábulo “tortura” ao comentar a acusação de que o seu “contato” constava da agenda do empresário de ônibus Jacob Barata Filho, preso na Lava Jato e libertado por Gilmar.
“Eu perguntei para o Gilmar: será que falei com esse homem, meu Deus? Será que ele ligou pra mim e não me lembro? É uma tortura! Depois, chego à conclusão de que, se os procuradores soltam a informação de que há o contato na agenda, é porque quebraram o sigilo telefônico do homem. E não tem nenhuma ligação minha. Não tem troca de ligações.”
Guiomar prosseguiu: “É tudo muito ridículo. Primeiro, o Ministério Público anunciou que meu contato estava na agenda do Jacob. Eu achei que era um telefone meu. Descubro agora, porque eles divulgaram, que é só o endereço. Ele queria mandar flores para nós. E desde quando flores enviadas em 2015, que nem me lembro se recebemos ou não, servem para fundamentar ou para reforçar um pedido de suspeição do Gilmar?”
Na companhia de Gilmar, em viagem oficial a Bucareste, Guiomar ecoa a pregaçãodo marido, que acusa a Procuradoria de tentar intimidar o Judiciário. “Imagina qual é a letirua que os ministros do STJ fazem desse episódio todo. Eles pensam: se fazem isso com um ministro do Supremo, o que não farão com a gente se deferirmos algum habeas corpus?”
“Quem sai perdendo”, declarou Guiomar, “é o cidadão comum, porque o Ministério Público é o dono da ação penal. O juiz, na hora de analisar um pedido de habeas corpus, vai raciocinar: é melhor deixar preso, senão eles vêm pra cima de mim. Isso acaba afetando a própria independência do Judiciário. Esse é o perigo.”
Guiomar se associa ao marido também nas críticas ao procurador-geral Rodrigo Janot, signatário de dois pedidos de suspeição contra Gilmar Mendes. O primeiro referia-se ao caso de Eike Batista, defendido na área civil pela banca de Sérgio Bermudes, que tem Guiomar nos seus quadros.
“No caso do Eike, o processo foi distribuído no Supremo e o Janot ficou quieto”, relatou Guiomar. “O Gilmar indeferiu o primeiro pedido de habeas corpus. O Janot continuou quieto. Quando o Gilmar estendeu o habeas corpus ao Eike, porque tinha deferido para um outro acusado da mesma operação, o Janot arguiu a suspeição. Ora, por que não fez no princípio?”
“Nesse caso do Jacob Barata Filho”, prosseguiu a mulher de Gilmar, “o processo foi distribuído para o ministro Luiz Fux, que se deu por impedido. Então, o processo foi redistribuído para o Gilmar. Em 25 de julho, os procuradores do Rio arguíram a suspeição do Gilmar, porque já havia um estardalhaço em função de ele ter sido padrinho de casamento da filha do Jacob Barata. Na verdade, foi padrinho do meu sobrinho, que casou com a moça. Nessa época, o Janot ficou quieto. Deixou o Gilmar decidir. Quando foi deferido o habeas corpus, o Janot arguiu a suspeição. Quer dizer que, se tivesse indeferido, não seria suspeito?”
Na opinião de Guiomar, Janot “manipula os fatos”. E “a imprensa cai nas esparrelas do procurador-geral.” Ela lamenta: “A dona Maria e o seu João asssitem ao Jornal Nacional e pensam: isso é tudo farinha do mesmo saco, o bandido mandou flores para o ministro e a mulher dele. Tudo isso macula, desacredita o magistrado. E gera insegurança dos demais, amedronta os outros. Quem perde é o cidadão.”
Por Josias de Souza
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