quinta-feira, 26 de abril de 2012

Liberdade é a liberdade dos outros


Carlos Brickmann



O governo acaba de mostrar o que é que entende por liberdade de expressão (ou, se alguém preferir, liberdade de imprensa): o Palácio do Planalto informou que o CQC está proibido de acompanhar as viagens da presidente Dilma Rousseff. O Ministério das Relações Exteriores anunciou que o CQC está proibido de entrar no Palácio do Itamaraty.

É antidemocrático, claro. E é burro: a grande reportagem não precisa ser feita no prédio onde vivem ou trabalham seus personagens.

Quando fez a série das mordomias, Ricardo Kotscho não precisou ir à casa ou ao escritório de Sua Senhoria nenhuma para contar como funcionava a bandalheira.

E, num regime autoritário, em sua fase mais dura, o repórter Ewaldo Dantas Ferreira foi proibido de viajar com o presidente Emílio Médici aos Estados Unidos. Viajou sem ele, longe da comitiva, fez reportagens antológicas para o Jornal da Tarde e não teve de conviver com aquela gente gosmenta que cercava Sua Excelência.

O governo atual, com as proibições ao CQC, mostra sua face autoritária e desconhecedora do que seja a liberdade de expressão.

Já o Sindicato dos Jornalistas de Brasília, que propõe que o governo tome mais medidas contra o CQC, é pior: eles sabem, ou deveriam saber, que liberdade é a liberdade de quem pensa diferente de nós.

Eles sabem, ou deveriam saber, que jornalismo é oposição: ficar pedindo favores ao governo é coisa de pelego, não de jornalista. E querer monopolizar a coleta e distribuição de informações é coisa de pelego corporativista.

A propósito, este colunista acha que o tipo de cobertura feito pelo CQC é um horror; aliás, nem o considera jornalismo. Mas quem vai definir o que é jornalismo não é este colunista, nem o pessoal que se julga de esquerda e não conhece o pensamento essencial de Rosa Luxemburgo: é o público, é o consumidor de informação.

Ou é o público que define o tipo de informação que prefere ou o jornalismo acabou: teremos de volta a ditadura militar, que de vez em quando implicava com o “baixo nível da TV” e obrigava as emissoras a transmitir concertos e ópera.

Podemos ter, talvez, o Pravda ou o Izvestia, determinando qual a linha justa de pensamento; ou o Die Sturm, o favorito de Hitler.

Onde já se viu, sindicato de jornalistas pedindo censura?

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