domingo, 29 de abril de 2012

Aplicado à política, segredo de Justiça é injusto


Josias de Souza

O instituto do segredo de Justiça precisa ser urgentemente ilegalizado. Assim como a nudez feminina, o sigilo judicial perdeu todo o suspense. No Cachoeiragate, a corrupção vive a mais despida das épocas. As relações político-empresariais entraram numa fase ginecológica.

Nesta sexta (28), o ministro Ricardo Lewandowisk autorizou o envio ao Senado de cópia do inquérito aberto contra Demóstenes Torres. Não havia muito a ser compartilhado. As manchetes já haviam mostrado as entranhas dos autos.

Para completar, antes que a ordem do STF fosse cumprida, o processo foi pendurado na internet. O site ‘Brasil 247′ terminou de arrancar os últimos e diáfanos véus do processo.

Quem lê o papelório, disponível aqui, pergunta aos seus botões, que não respondem porque só admitem falar em juízo: por que diabos uma investigação que expõe as entranhas da baixa política deve ser guardada a sete chaves?

O sigilo processual pode ser justificável em muitos casos. Detalhes de um litígio matrimonial, por exemplo, não interessam senão ao ex-casal e ao magistrado. No caso dos políticos infiéis, porém, o biombo é injustificável. O eleitor tem o direito de saber que está sendo traído.

A nudez de Demóstenes Torres e Cia. é triste. Ninguém pediu para ver. Porém, se a turma resolveu ficar nua e meter-se numa orgia com Cachoeira, qual é o sentido de privar a platéia dos detalhes sórdidos? Recorde-se: a voz do senador começou a soar nos grampos da Polícia Federal numa investigação de 2008.

Correndo em segredo, o inquérito chegou à Procuradoria-Geral da República em 2009. Foi à gaveta. Em 2010, Demóstenes apresentou-se ao eleitorado de Goiás como o mesmo paladino de sempre. Embora já fosse outro, vendia-se como relator do projeto da Ficha Limpa. Reelegeu-se com votação consagradora.

Sobreveio o segundo inquérito. De novo, em segredo. O que era claro, tornou-se cristalino: mantido no escuro, o eleitor de Goiás reconduziu ao Senado uma farsa. Assim, lento e misterioso, o Judiciário nem julga nem deixa o eleitor fazer justiça com os próprios dedos, no teclado da urna eletrônica.

Nenhum comentário: