Lembre aquela brincadeira antiga, em que a sombra dos dedos parece ser um
cachorro, ou uma casa, ou uma ave.
O poder é assim: as coisas não são o que parecem (e, quando são, como ninguém
acredita que sejam, é como se não fossem). Collor batia em Sarney, mas era
xingação de campanha – tanto que hoje são colegas de base aliada.
Lula chamava Sarney de ladrão, dizia que Maluf tinha de ir para a cadeia, mas
eram, disse, bravatas: hoje estão todos juntos.
Não pense que alguém queira prender o senador Demóstenes Torres ou desmontar
o império de Carlinhos Cachoeira. O jornalista Fernando Gabeira sintetizou o
caso com sua habitual precisão: “Está ficando claro para todos que o PT pretende
usar o escândalo Cachoeira para demonstrar que o mensalão foi apenas uma
cascata. As denúncias coincidem com o ano eleitoral. É inevitável que cada força
política utilize o tema da maneira que lhe parece mais vantajosa”.
No caso, tentar reduzir a importância do Mensalão, que está para ser julgado
no Supremo.
Um indício? Há alguns anos a investigação vem correndo, mas só agora as
conversas telefônicas foram vazadas para a imprensa. Por que exatamente nas
proximidades do julgamento do Mensalão? E justo Demóstenes?
Demóstenes, mesmo que consiga se livrar de problemas judiciais, é um achado:
o mais agressivo denunciante fazia o que acusava os adversários de fazer.
Contribui para a ideia geral de que política é isso mesmo e que os mensaleiros
são iguais a todos os outros. Não são.
Mas há muitos iguais a eles.
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