segunda-feira, 16 de abril de 2012

As sombras do poder

Carlos Brickmann


Lembre aquela brincadeira antiga, em que a sombra dos dedos parece ser um cachorro, ou uma casa, ou uma ave.

O poder é assim: as coisas não são o que parecem (e, quando são, como ninguém acredita que sejam, é como se não fossem). Collor batia em Sarney, mas era xingação de campanha – tanto que hoje são colegas de base aliada.

Lula chamava Sarney de ladrão, dizia que Maluf tinha de ir para a cadeia, mas eram, disse, bravatas: hoje estão todos juntos.

Não pense que alguém queira prender o senador Demóstenes Torres ou desmontar o império de Carlinhos Cachoeira. O jornalista Fernando Gabeira sintetizou o caso com sua habitual precisão: “Está ficando claro para todos que o PT pretende usar o escândalo Cachoeira para demonstrar que o mensalão foi apenas uma cascata. As denúncias coincidem com o ano eleitoral. É inevitável que cada força política utilize o tema da maneira que lhe parece mais vantajosa”.

No caso, tentar reduzir a importância do Mensalão, que está para ser julgado no Supremo.
Um indício? Há alguns anos a investigação vem correndo, mas só agora as conversas telefônicas foram vazadas para a imprensa. Por que exatamente nas proximidades do julgamento do Mensalão? E justo Demóstenes?

Demóstenes, mesmo que consiga se livrar de problemas judiciais, é um achado: o mais agressivo denunciante fazia o que acusava os adversários de fazer. Contribui para a ideia geral de que política é isso mesmo e que os mensaleiros são iguais a todos os outros. Não são.
Mas há muitos iguais a eles.

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