O Globo
O fato de a presidente (a) Dilma Rousseff ter praticamente repetido na posse as mesmas linhas daquele discurso que fez quando foi eleita em outubro, muito mais do que significar falta de imaginação política, demonstra, sobretudo, coerência e persistência, virtudes mais importantes para uma tentativa de prospecção do que poderá vir a ser o seu governo, marcado pela continuidade, mas também pela necessidade de mudar rumos e conceitos sob a sombra de um Lula que se recusa a sair de cena.
A visão dela de como governar, as primeiras decisões tomadas, de privatizar os aeroportos, de conter gastos, vão no caminho do que o Brasil precisa.
A maioria dos ministros que assumiram seus cargos, mesmo os que continuaram no governo, deu informações importantes sobre como agirão, algumas diametralmente opostas ao que estava sendo feito anteriormente. Fazer mais com menos, na definição da nova ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Os arroubos ideológicos de alguns, mesmo os de Dilma, idealizando sua participação na luta armada, e a prática continuada de criar uma mitologia em torno de Lula não têm importância se não passarem mesmo disso.
O início está dentro do que se poderia esperar de melhor de um governo nascido da continuidade, mas que terá de consertar muita coisa que foi feita de maneira errada no governo anterior, mas sem dizer que está fazendo isso, ou fazer coisas que não foram feitas.
A inflação, por exemplo, requer medidas rápidas e enérgicas, pois começa a se mostrar fora de controle. O IGP-M perto de 12% ao ano é uma péssima indicação.
Além do constrangimento natural diante do líder máximo que é Lula — sobre quem o ministro Gilberto Carvalho disse ser capaz de morrer por ele, num arroubo místico impressionante, e que diz muito do lulismo como seita —, há o fato concreto de que muito do rombo nas contas públicas dos últimos meses, especialmente no último ano de governo, foi feito justamente para eleger Dilma.
Por Merval Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário