Nelson Motta |
A nova lei é dura e as multas são pesadas. Cerca de 70% da população desaprovam, mas a Assembleia Nacional decidiu que trocar sexo por dinheiro vai ser ilegal na França e o Estado vai punir o que as mulheres e os homens fazem com seu corpo. Como o flagrante tem que ser com o ato consumado, e pago, agora falta uma Polícia Sexual.
As feministas se dividiram entre a liberdade e a dignidade: umas acreditam que as mulheres só se prostituem à força, que são escravas sexuais exploradas e degradadas por traficantes de pessoas, o que é verdade, mas não para todas; outras fazem por livre vontade, porque gostam, e se consideram benfeitoras dos homens, e mulheres, por lhes vender prazer e felicidade, o que também é verdade desde que o mundo é mundo.
Mas não é novidade. Nos Estados Unidos, à exceção do estado de Nevada, onde fica Las Vegas, a prostituição é criminalizada em todo o país, com multas e cadeia para quem compra ou vende sexo. Na repressão, usam até policiais gatonas que se fingem de prostitutas para abordar um cidadão na rua e lhe oferecer um programa, e assim que ele aceita, lhe exibem a carteira da policia e dão voz de prisão. Sim, a cilada moral é vista como uma ação legal pela Justiça, mas o resultado não é o aumento da proteção às mulheres, mas do índice nacional de hipocrisia.
Em alguns estados mais puritanos chegam a expor em outdoors os nomes e fotos imensas de homens, a maioria casados, que foram flagrados com prostitutas. Enquanto isso, milhares de sites oferecem mulheres, homens e transexuais para qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer preço, e profissionais ironizam a concorrência de amadoras, que trocam sexo por viagens, carros e joias ou por casa, comida e cartão de crédito, ou um emprego público. Seja no varejo ou no atacado, julgamentos são inúteis: cada um dá o que tem.
Além das piadas e da inviabilidade de sua aplicação, tornar ilegal a prostituição na França é um atentado contra o imaginário coletivo nacional. O que seria da cultura francesa sem os dramas e comédias, as óperas e os romances, os filmes, peças e quadros que elas inspiraram?
Nelson Motta é jornalista.
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