Os repetidos desastres ambientais causados pelas chuvas no Rio são o
combustível de uma engrenagem com raízes históricas no Brasil.
Incapacidade administrativa, burocracia, interesse político e as chamadas
"obras emergenciais", que dispensam licitação e são uma oportunidade para o
desvio de recursos.
Bem azeitados, esses componentes funcionam como a indústria da seca, que por
muito tempo atuou no semiárido nordestino. A lógica é a mesma.
Por mais que o poder público tenha conhecimento de onde e quando haverá
problemas, a lentidão ou desinteresse em se antecipar aos danos põe para girar a
indústria da enchente, na qual alguns ganham com obras pontuais ou apenas de
emergência, e todos perdem com a falta de projetos que de fato poderiam reduzir
o impacto de futuras tragédias.
No caso mais vivo na memória — a enxurrada que devastou a Região Serrana em
janeiro de 2011 — ficou comprovado como o setor público se move a passos
lentos.
Um ano após a tragédia que matou 918 pessoas, não foi erguida uma só parede
das 5.459 casas populares financiadas pelo governo federal para abrigar os
moradores de áreas de risco.
O poder público alega que houve atraso no repasse de recursos e falta de
interesses das construtoras no negócio.
A promessa do governador Sérgio Cabral é iniciar as obras ainda este ano.
Nesses 368 dias depois da tragédia, o trabalho de contenção de encostas ainda
não foi concluído e só uma das 75 pontes destruídas foi recuperada. O motivo
teria sido a demora na liberação da licença ambiental devido a projetos de
execução inadequados.
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