MADRI - Um dia depois de ter afirmado estar feliz com a libertação de presos políticos cubanos , o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de críticas em uma entrevista coletiva oferecida, nesta quinta-feira, em Madri, por sete dos 11 dissidentes que foram soltos esta semana e levados para a Espanha. No dia em que mais dois cubanos chegaram ao país, os que já estavam na capital espanhola criticaram também o tratamento dado pelo governo espanhol e revelaram as péssimas condições da vida no cárcere em Cuba. Segundo Julio Cesar Gálvez, as celas eram infestadas por ratos e baratas e os prisioneiros conviviam com surtos de dengue e tuberculose na cadeia.
Um dos presos libertados lembrou que o presidente brasileiro estava na ilha quando o dissidente Orlando Zapata morreu, em fevereiro, após 85 dias de greve de fome. Na ocasião, Lula se recusou a comentar as denúncias sobre desrespeito aos direitos humanos. Depois, ao defender o respeito à Justiça cubana, ele foi acusado de comparar Zapata a presos comuns de São Paulo . Agora, o presidente voltou a ser criticado por omissão.
- Quando houve a tragédia de Orlando Zapata, Lula estava apertando a mão de Fidel e Raúl e não advogou nem levantou a voz para salvar a vida de Zapata. Aliou-se ao crime e não à Justiça. Orlando Zapata podia ter tido, mesmo que remotas, possibilidades de sobreviver se Lula tivesse intercedido pessoal e publicamente por ele. Diz que está feliz com a nossa liberação, mas nós estaríamos felizes se tivesse advogado por Orlando Zapata Tamayo - criticou Omar Rodríguez Saludes na entrevista coletiva.
Lula também foi acusado de manter um discurso populista, estar pensando na eleição e ser parcial por causa de sua amizade com o ex-líder cubano Fidel Castro.
- Não podemos esquecer que Lula continua com o discurso populista para a continuidade de seu partido no poder. Também não podemos esquecer que Lula sempre foi amigo de Fidel Castro. O que podemos esperar de Lula? Lula não tinha que criticar nem felicitar, e sim colocar-se à disposição da solidariedade, como a que recebemos de diversas organizações brasileiras, de direitos humanos e direitos civis, e apoiar a liberdade e a democracia em Cuba - disse Julio César Gálvez.
Ricardo González Alfonso acrescentou que "é óbvio é que não somos criminosos de São Paulo nem viemos por uma situação econômica difícil de nosso país".
- É preciso ter em conta que estamos sendo perseguidos por nossas opiniões que discrepam com o governo de Havana - disse.
O presidente brasileiro não foi o único criticado. O dissidente Normando Hernández González mencionou diretamente o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, ao questionar o tratamento que os cubanos estão recebendo em Madri.
- Se o governo Zapatero se comprometeu a nos acolher na Espanha, acho que o mais digno seria que nos desse o status que merecemos e que nos dê as condições humanas que merecemos - disse ele, segundo o jornal "El Mundo". - Não estamos pedindo que nos alojem em um hotel de cinco estrelas. Somos pessoas humildes e viemos do terceiro mundo.
O grupo se queixou de ter sido recebido com status de imigrantes - e não de refugiados. Eles reclamaram do alojamento onde estão, um hotel na periferia, com banheiros compartilhados e sem privacidade para ficar com os parentes que não viam havia sete anos.
- Chegou um funcionário do governo, que não sei como se chama, para nos dizer 'você vai para aí, você vai para lá'. A realidade é que saí de uma prisão de grades e estou numa prisão sem grades - disse Gálvez.
O governo espanhol informou que os cubanos poderão solicitar asilo político, mas não deu garantias de que o pedido seria atendido. Os dissidentes dizem que estão em um "limbo jurídico" - não são reconhecidos como exilados, mas não são imigrantes porque não podem voltar para Cuba. Com a chegada à Espanha de Mijail Bárzaga e Luis Milan, nesta quinta-feira, já são 11 os presos políticos libertados na ilha e levados a Madri.
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