sexta-feira, 30 de julho de 2010

Brasil deve ter sabedoria no conflito entre Colômbia e Venezuela

Miriam Leitão

A foto é minha

O presidente Lula fez uma declaração infeliz. Menosprezou o tamanho da tensão existente entre a Colômbia e a Venezuela, dizendo que era um conflito verbal. Ele falou que temos que ter paciência e esperar acabar o governo de Uribe para conversar com Santos.

Ao dizer isso, fez pouco de um conflito que é um grave problema da Colômbia. Antes do governo Uribe, as Farc controlavam 40% do território. Pessoas não podiam cruzar o país, ir, por exemplo, a Cartagena de carro, porque podiam ser sequestradas. O atual presidente está derrotando o grupo.

Nós sabemos que isso tem a ver com a gente, porque nosso grande inimigo é o tráfico de drogas. E eles estão ligados a isso, tanto que foi para lá que o traficante Fernandinho Beira Mar foi se esconder, quando fugiu daqui. Não é brincadeira.

Nesta semana, entrevistei Jorge Castañeda, intelectual do México, e ele disse que o problema do governo brasileiro em relação às Farc é a ambiguidade. O Brasil nunca a declarou como terrorista, sempre deixou no ar que era um grupo insurgente. Mas isso havia nos anos 70, quando tinha ditadura na América Latina, mas agora a Colômbia é uma democracia.

Além do mais, quando fala que vamos esperar o próximo presidente, está fazendo pouco do atual. Acho que não gostaria que fizessem isso com ele no final de seu governo.

Outra coisa: Uribe acusou a Venezuela de dar abrigo às Farc, mostrando provas. O Brasil tem que tomar cuidado e não improvisar nesse assunto. Lula ligou para Chávez para prestar solidariedade, mas não para Uribe. Nosso interesse é ter boas relações com os dois países com os quais temos uma relação pacífica.

Eu já entrevistei os dois. Ambos são tensos, agressivos. A diferença é que Uribe respeitou a Suprema Corte, quando ela disse que ele não podia tentar um terceiro mandato, e Chávez, não.

Para o Brasil, o importante é que eles vivam em paz, que tenhamos boas relações com ambos e não escolhermos um dos dois governantes, porque são passageiros e a relação com os países é mais importante.

Até o Brasil já teve problemas com as Farc. Generais brasileiros vivem atentos para que eles não ultrapassem a fronteira. Em 1991, eles entraram, mataram soldados e foram mortos pelo exército brasileiro, que não quer intervenção no território.

O Brasil tem que tomar cuidado, não pode escolher um lado. Tem que querer uma relação de amizade com os dois.

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