Eleito graças ao impulso que recebeu do antipetismo, maior força eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro realiza uma nova incursão no universo político do PT. Com a criação do 13º do Bolsa Família, o capitão invade a última cidadela do rival: os bolsões de pobreza situados nas regiões Norte e Nordeste e nas periferias das grandes cidades. O movimento coincide com a queda da popularidade do presidente.
Deve-se a iniciativa a uma promessa de campanha. Foi a forma que Bolsonaro encontrou para imunizar-se contra o veneno espalhado pelo PT de que ele acabaria com o Bolsa Família se chegasse ao Planalto. Coube ao ministro Osmar Terra (Cidadania) coordenar os estudos para colocar a providência em pé. O mimo vai custar R$ 2,6 bilhões. Alega-se que o dinheiro virá da supressão de fraudes.
Em 2011, quando era deputado federal pelo MDB do Rio Grande do Sul, o mesmo Osmar Terra escreveu no Twitter: "Um programa social que não estimula a emancipação dos chefes de família, que não promove a sua autonomia a médio prazo, é uma coleira política".
Na prática, Bolsonaro tenta retirar a clientela do Bolsa Família da "coleira política" do PT, assumindo ele próprio o controle. Imagina que, atraindo a simpatia remunerada dos membros das 14,1 milhões de famílias cadastradas no programa, transformará a invasão em ocupação. Além de asfixiar o PT, deseja obter prestígio onde não tem.
No Nordeste, por exemplo, Bolsonaro amealhou no segundo turno de 2018 apenas 30% dos votos válidos, contra 70% obtidos pelo petista Fernando Haddad. O PT elabora às pressas um discurso para se contrapor à investida do capitão. Aposta que a tentativa de sedução não surtirá o efeito idealizado pelo Planalto.
Para não cutucar o eleitorado, o PT evita criticar diretamente o 13º. Prefere alegar que o governo tirou com uma mão o que dará com a outra, pois Bolsonaro cancelou o reajuste dos benefícios em 2019. Meia verdade. A Folha fez as contas. Constatou o seguinte:
"Numa projeção do 13º diluído entre os 12 pagamentos mensais, há um acréscimo de R$ 16 no valor médio pago por mês. Se fosse aplicada a inflação (INPC) acumulada nos últimos 12 meses, ele seria de menos de metade: R$ 7,5."
Bolsonaro e o ministro Terra são defensores da tese segunda a qual o Bolsa Família precisa ter "porta de saída". Na festa de aniversário de 10 anos do programa, realizada em 2013, sob Dilma Rousseff, Lula discursou sobre o tema. Disse que a crítica à falta de porta "denota uma visão extremamente preconceituosa no nosso país."
"Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade", prosseguiu Lula. "É tentar transmitir para o pobre a responsabilidade pelo abismo social criado pelos que sempre estiveram no poder em nosso país."
Decorridos seis anos, Lula está preso e o abismo, além de continuar existindo, foi aprofundado pela ruína construída por Dilma antes do impeachment. Com 13,1 milhões de desempregados na praça, o governo é pressionado a alargar a porta de entrada do Bolsa Família. Porta de saída segura ainda não há. Mas Bolsonaro convida a clientela do programa abandonar o petismo por uma porta lateral, que conduz ao seu colo.
Por Josias de Souza
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