Gustavo Bebianno,, então braço-direito de Bolsonaro (e depois apeado do governo), discursa em piquete de caminhoneiros. Poucos perceberam que o movimento já era parte da campanha eleitoral. E agora a categoria tem no presidente o seu valoroso refém. Há link para o vídeo ao fim do post |
Engana-se quem acha que Jair Bolsonaro teve um faniquito, pegou o telefone, ligou para o presidente da Petrobras e determinou que este voltasse atrás e suspendesse o reajuste do preço do diesel. Houve muito mais método do que isso: o método da loucura que caracteriza o populismo de extrema-direita que está no poder e que alguns lesados acreditam que pode ser domesticado. Não por acaso, o bolsonarismo de raiz estava em festa ontem.
Enquanto Paulo Guedes passava vergonha em Nova York, os adoradores do "Mito" mal podiam se conter: eles gostam é desse presidente que dá murro na mesa. Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, o chefe da Casa Civil que nunca moveu uma palha em favor da reforma da Previdência, sabiam que a Petrobras iria reajustar o combustível. Esperaram acontecer para poder determinar o recuo.
POPULARIDADE E MERCADOS
A, por assim dizer, "popularidade" do presidente caiu junto aos mercados. Mas os mercados, vamos convir, não são operados pelo povo e, pois, ser popular por ali não rende votos. Eu tenho um pouco de pena desses moços e moças que caíram no conto do "Bolsonaro liberal". Não tanto pelo dinheiro que eventualmente vão perder. Mas porque deve ser chato perceberem-se feitos de trouxa. Não posso falar por experiência própria nesse caso…
Procurem. Está em todos os veículos de imprensa que acompanham o assunto. A Petrobras decidiu no dia 26 de março que o reajuste do combustível se daria a cada 15 dias, ocasião em que anunciou também a criação do tal "Cartão Caminhoneiro", para a compra do diesel a preço fixo por um determinado período. Até agora, não se sabe como a coisa vai funcionar. Nada foi explicado ao mercado. Bastaram três meses para que a Petrobras voltasse a ser a velha caixa preta — que, ora vejam, havia se iluminado durante o governo do demonizado Temer, o que a fez sair do buraco —, agora servindo ao obscurantismo da extrema-direita populista.
O PIOR, O MENOS RUIM E RISCO MOURÃO
Ora, se Bolsonaro fez o pior, que foi determinar o recuo de um aumento já concedido, por que não fez, então, o menos ruim, a saber: conversar com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco? Poderia ser assim: "Não é para dar o aumento; sou refém dos caminhoneiros. Se eles fazem uma greve agora, estou ferrado. Já ficou claro que meu governo é uma bagunça e que não tenho a menor ideia de que diabos estou fazendo aqui. Se os caminhoneiros param o país, como eu ajudei a fazer no governo Temer, a reforma da Previdência dança de vez, mesmo aquela bem mixuruca que eu topo fazer, e a economia vai pro diabo. Considerando que já cometi alguns crimes de responsabilidade, você já viu, né? Vão acabar chamando o Mourão… E eu nem vou poder fazer como os petistas e gritar: 'golpe!' Então evite isso daí…"
Percebeu o leitor na suposta fala acima a tinta, ou os dígitos, da galhofa. Evidentemente, na possível vida real, Bolsonaro driblaria a verdade que vai na fala de ficção e se ateria apenas à ordem: "Evite isso daí". Mas ele não o fez. Sabendo que o reajuste viria, ele se calou. E deixou que o aumento fosse determinado para ser, em seguida, suspenso. Pronto! Temos um presidente que impede o reajuste de combustível em vez de defendê-lo. Este, sim, apoia o povo, certo? Como está sendo unanimemente criticado pela imprensa com miolos, ainda vai sobrar para a tal "mídia", que será tratada como inimiga do povo por criticar um presidente que impede algo que parece ruim: o aumento de combustíveis. Os caminhoneiros viraram os coletes verde-amarelos de Bolsonaro. E, claro!, ele não é bobo como Emmanuel Macron, certo?
Não! Bolsonaro não combinou a patuscada com Roberto Castello Branco. Ele apenas deu ao presidente da Petrobras a ilusão da autonomia técnica. E ficou à espreita. A justificativa para suspender o reajuste é de uma estupidez supina: o índice estaria acima da inflação esperada para este ano, como se fosse esse o indicador a regular o preço dos combustíveis. Sabe que isso é mentira. E daí?
Insista-se: os bolsonaristas fanáticos estão em festa com seus dois dias gloriosos, Na quinta, Bolsonaro atuou para tungar dos petistas o Bolsa Família ao anunciar a 13ª mensalidade — sim, o programa já havia sido tungado de FHC… Na sexta, a interferência escancarada na Petrobras, com o anúncio de que pretende chamar "todos os envolvidos" na terça para debater o preço dos combustíveis. O "Mito" diz querer saber quanto, afinal, custa esse troço, qual é o custo, qual é a margem de lucro.
POPULISMOS DE ESQUERDA E DE EXTREMA-DIREITA
O populismo de extrema-direita é diferente do populismo de esquerda. Este costuma avançar nos cofres públicos para, vamos dizer, garantir benefícios a coletividades, sem se importar muito com o caixa. Tende a se ocupar mais da distribuição de benesses do que da geração de riquezas que possam ser distribuídas. Ainda que seu antípoda ideológico não seja estranho a essa prática, este tem uma particularidade, que é a vocação para bedel:
– quanto a empresa ou o setor X estão lucrando?;
– o que o professor está ensinado na sala de aula?;
– que tipo de sexo se faz no Carnaval?;
– por que há tantos radares nas estradas?;
– é preciso acabar com as lombadas eletrônicas;
– é necessário rever a importação de bananas do Equador…
A personagem é patética. Isso não quer dizer que não seja metódica.
Ah, sim: exceção feita aos realmente liberais e à imprensa, quem vai criticar a patuscada sobe o aumento do diesel? Não o farão os parlamentares de situação. Nem os de oposição.
O desastre do populismo está precisamente no fato de que confrontá-lo não é uma prática… popular. Está aí a Lava Jato com uma das estrelas da tragédia brasileira, certo?
"Reinaldo, seria muita irresponsabilidade Bolsonaro esperar um aumento que ele sabia ser certo e não impedi-lo só para depois revogá-lo. Olhe o que aconteceu com as ações da Petrobras…"
Vocês acham mesmo que ele se preocupa com isso? Vejam como destruiu a reforma da Previdência em 51 dias.
Se Bolsonaro fosse politicamente responsável, não teria dado apoio à greve dos caminhoneiros, como se vê no vídeo abaixo. Sim, agora é refém de quem ajudou a elegê-lo espalhando o caos. O fundo do poço está ficando mais fundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário