Jair Bolsonaro teve um surto à moda de Dilma Rousseff. Mandou brecar à noite um reajuste no preço do diesel que a Petrobras anunciara durante o dia. Coisa de 5,7%. A nova cotação, que vigoraria nesta sexta-feira, chegou a ser anotada na tabela exibida no site da estatal. Mas o Planalto mandou passar uma borracha. Caminhoneiros celebraram em grupos de WhatsApp a intervenção de Bolsonaro.
Sob Dilma, o Brasil descobriu que o populismo governamental com o preço dos combustíveis é como fábula de gênio. Há mil histórias de gente tirando o gênio da garrafa. Mas não há nenhuma de gente obrigando o gênio a entrar de novo. Nas gestões petistas, o represamento dos reajustes forçou a Petrobras a absorver o custo. A estatal por vezes importou óleo mais caro do que vendia.
Associado à roubalheira, o represamento dos preços levou a Petrobras à breca sem evitar a inflação. Sob Michel Temer, abriram-se as comportas dos reajustes em periodicidade diária. O gênio não quis voltar para a garrafa. Sobreveio a greve de caminhoneiros, que impôs ao país uma rotina venezuelana.
De joelhos, Temer injetou subsídio na bomba. Mas o aditivo terminou junto com o seu mandato. Com a chegada de Bolsonaro, os preços passaram a subir a cada sete dias. Em março, o Planalto farejou uma insatisfação dos caminhoneiros. O cheiro era de greve. A Petrobras esticou para 15 dias o intervalo entre um reajuste e outro.
O aumento desta sexta-feira chegaria 20 dias depois do anterior. Ao ordenar a meia-volta Bolsonaro potencializou o 'efeito gênio da garrafa'. Há outras formas de reduzir as cotações do combustível. Nenhuma delas conduz à perfeição. Mas é melhor correr o risco de cometer erros novos do que reincidir num erro velho.
No livro 'A Prisioneira', Proust anotou: "Habitualmente detestamos o que nos é semelhante e nossos próprios defeitos vistos de fora nos exasperam." A inabilidade política de Bolsonaro já havia conferido ao capitão uma aparência de Dilma com o sinal trocado. A intervenção na Petrobras leva a semelhança para o campo econômico. Resta saber o que o liberal Paulo Guedes acha da novidade.
Por Josias de Souza
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