Não é pouca coisa. Desde 1º de abril de 1964, está no poder um governo que não conta com o apoio das, como posso chamar?, “Organizações Globo”. Ao contrário: elas atuam para derrubá-lo. E, para tanto, não medem esforços. Há procedimentos que até podem ser confundidos com jornalismo.
Estamos falando dos últimos 53 anos. Notem: o próprio Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente, um homem acostumado a ser independente, não se se sente à vontade para endossar institucionalmente o governo. Sabe que estaria na contramão de aliados históricos. Afinal, os Marinhos nunca lhe faltaram, e ele não pode lhes faltar numa hora como esta: os veículos da família apostaram tudo no sucesso da blitzkrieg. Era para Michel Temer cair em uma semana. Mas ele não caiu.
E agora?
E agora? Na semana em que a revista “IstoÉ” evidencia o clima de terror que vigora no Ministério Público Federal, eis que Joesley Bastista, anti-Macunaíma das Organizações Globo, o herói cheio de caráter — ele confessou apenas 245 crimes —, concede uma entrevista à revista “Época” que tem o claro objetivo de constranger o Supremo Tribunal Federal.
Esse monumento moral que é Joesley decide acusar o presidente Michel Temer de ser o “chefe da maior e mais perigosa organização criminosa” que há no país. Que coincidência! Será justamente essa a acusação a ser feita por Rodrigo Janot, procurador-geral da República. É desse princípio que partiu Edson Fachin, relator auto-outorgado do caso, para tomar suas decisões. Nos veículos da “Organização” — TVS (aberta e a cabo), rádios e jornais —, não há uma só crítica, nem a mais remota, às ações ilegais ou autoritárias que buscam depor Michel Temer. Ao contrário: editorial do jornal “O Globo” pregou a deposição.
“Que é isso, Reinaldo? Vai se comportar como a esquerda agora? Vai gritar palavras de ordem contra pessoas da Globo em aviões?”
Ah, não! A turma da emissora sabe que não sou esse tipo de vagabundo. Sabe que não me perco em pensamentos genéricos. Inclusive quando julguei necessário defender o grupo de ataques que considerei injustos.
Onde estão as evidências de ilegalidade? Pois não! Se seus donos e editores ainda não descobriram, eu digo.
– A gravação, EDITADA, da conversa com o presidente é uma prova ilícita, que fere o Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição. Aceito, claro, um contra-argumento. Mas não me tragam “opiniões”. Cobro que evidenciem que a letra da Constituição foi suplantada por algum outro título legal;
– Edson Fachin nunca foi o relator natural do caso porque, obviamente, este nada tem a ver com o petrolão. Assim, violou-se o fundamento do juiz natural, triplamente assegurado na Constituição de 1988: Artigo 5º, incisos XXXVII (“Não haverá juízo ou tribunal de exceção”), LIII (“Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”) e LIV (“Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”).
Essas são as duas agressões primitivas ao devido processo legal, das quais outras tantas decorreram, com o beneplácito dos veículos da “Organização”, que passaram a atuar como ordem unida. Não se leem, não se veem nem se ouvem em notícias nem no material opinioso:
– críticas aos critérios solipsistas que definem as prisões preventivas;
– críticas a métodos característicos de um Estado policial; ao contrário: os veículos passaram a atuar como colaboradores da agressão sistemática a direitos individuais;
– críticas aos métodos heterodoxos a que recorrem procuradores, inclusive o geral, para provocar alarido na opinião pública. Como definiu Nina Lemos, uma jornalista de esquerda, que não é da minha turma, Deltan Dallagnol, por exemplo, se comporta como uma “blogueira teen”, que decide dizer nas redes tudo o que lhe passa pela cabecinha confusa, ornada por duas faces rosadas. Ocorre que ele é coordenador da Força Tarefa da Lava Jato, que deveria colaborar para pôr o Brasil nos trilhos; em vez disso, parece haver um esforço deliberado para afundar o país.
A revista “Época”, do grupo, traz uma entrevista com Joesley. Com o devido respeito, juro!, aos profissionais envolvidos na operação, estamos diante de uma das coisas mais vergonhosas que já se fizeram no país sob a chancela de “jornalismo”.
Não! Não se trata de defender ou de atacar Michel Temer; de crer ou não crer nas sua honestidade pessoal, de apostar ou não na sobrevivência do seu governo. Trata-se de dar a palavra, sem contestação, a um bandido confesso, beneficiado — a exemplo de outros, mas com ainda mais licenças — por uma delação premiada espúria e por um acordo de leniência idem. Nos dois casos, os lesados são os brasileiros.
Já fiz a conta que as Organizações Globo não querem fazer: o 0,25 ponto percentual a menos na redução de juros custa, em 12 meses, algo em torno de R$ 6,5 bilhões. E a mais recente redução da Selic foi de 1%, não de 1,25%, por causa de Joesley e sua organização criminosa. O Boletim Focus já reduziu em 0,1 ponto percentual a expectativa de crescimento neste ano em razão dessa crise. Parece pouco? Estamos falando de R$ 6,3 bilhões. É o que custa cada 0,1 ponto percentual que deixarmos de crescer. O que está dado hoje: o grupo J&F pagará R$ 10,3 bilhões de multa ao longo de 20 anos, e o país já levou no lombo, até agora, um esperto de quase R$ 13 bilhões em um ano.
E Joesley comparece à revista “Época” como herói da resistência, apto a apontar Michel Temer como chefe da organização criminosa? Quem o faz é o sujeito que confessou 245 crimes e, como garantia da impunidade e da imunidade, só tinha de entregar o presidente da República. Deveria haver um limite para o ridículo. Mas parece que tal limite se perdeu de vista diante do horizonte golpista.
Empreitada irresponsável
O que levou as “Organizações” a adotar essa postura? Não sei. A esquerda fica fantasiando coisas: “Ah, é a publicidade”. Besteira! Uma empresa do grupo, a Seara, está entre os 20 maiores anunciantes do país, sim, mas em 16º lugar (dados de 2016). Será a Globo dando sequência a seu mea-culpa pelo apoio do patriarca, Roberto Marinho, ao golpe de 1964? Não sei. Houve, no caso, uma abjuração até exagerada. Seria curioso que os contemporâneos tentassem purgar, com o apoio a um novo golpe, a sua herança culpada em razão de um… golpe! Um amigo, um tanto indignado, recomenda: “Pesquise as apostas cambiais também das organizações, não só da J&F”. Se alguém tiver tempo para isso, que o faça. Eu não tenho.
Não sei as razões, mas sei o tamanho da irresponsabilidade da empreitada. Dar apoio objetivo a métodos ilegais de investigação; acatar como verdades absolutas, aptas a depor um governo, as palavras de um criminoso contumaz; apostar todas as fichas nessa deposição quando não se tem claro nem o rito que se seguiria para a ascensão de um presidente eleito pelo Congresso — acho que, a esta altura, a Globo já percebeu que Cármen Lúcia não tem fôlego —, bem, tudo isso é de uma irresponsabilidade gigantesca.
Virulência
A entrevista deste bandido à “Época” é só a expressão do agravamento de uma virulência que parece já ter vislumbrado a própria derrota. Atenção! Para todos os efeitos, o sr. Joesley está à disposição do Ministério Público Federal, que ainda pode denunciá-lo, e da Justiça. Uma entrevista com tal teor não seria concedida sem a prévia concordância de Rodrigo Janot, que está a dias de entregar a sua denúncia.
É um acinte à inteligência que Joesley, o grande amigo de Lula, seja a peça central de uma armação disposta a depor Michel Temer. O açougueiro de instituições, claro!, acusa também o petista, que teria profissionalizado a corrupção no Brasil. Faz parte dos chamados “saludos a la bandera”. Sem a admissão de um Lula também corrupto, a entrevista se limitaria apenas ao ridículo. Mas o alvo primeiro é Temer, como se nota. Em seguida, Aécio Neves. A ópera bufa de Janot prosperou até aqui.
E que se note: Joesley veio para enterrar a expressão “petrolão”. E também retirou do mercado político o PT como o responsável pelo maior escândalo da história do país. No lugar dessa narrativa, há outra, já vocalizada pela “blogueira teen” de faces rosadas: “o combate à corrupção”, assim, de modo genérico, sem atores, o que, obviamente, é uma prática que absolve o PT.
A entrevista de Joesley é uma das últimas cartadas para tentar depor o presidente. Os autores da patuscada já não sabem o que fazer. Contavam com o depoimento bombástico de Eduardo Cunha, que não veio. Não por acaso, Joesley diz o que qualquer pessoa que acompanha política sabe ser falso como nota de R$ 3: o ex-deputado seria um subordinado de Temer. É brincadeira!
Sem saída
A articulação golpista está sem saída. Eis o sentido dessa entrevista. É nesse contexto que entendo o estranho discurso de Fernando Henrique Cardoso, que decidiu apelar à generosidade de Temer, falando até em antecipação das eleições, em consonância, sim, com as Organizações. Não que FHC faça parte do golpe. Claro que não! Mas é fato que ele decidiu não atuar na resistência, daí o apelo àquela que seria uma saída, digamos, “democrática”. Nota: nem ao povo, numa democracia, é dado violar a Constituição. Imaginem eleições diretas agora… Lula não quer outra coisa.
E o ex-presidente deveria saber, ou fica sabendo agora, que a Constituição se pronuncia duas vezes sobre o caso: o Parágrafo 1º do Artigo 81 é afirmativo: “Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.” E o Inciso II do Parágrafo 4º do Artigo 60, o das cláusulas pétreas, é proibitivo: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir (…) o voto direto, secreto, universal e periódico”. Esse “periódico” quer dizer que não se muda a data da eleição na vigência do período definido por lei. Se FHC se lembrar bem, a malfadada emenda da reeleição, que seu governo patrocinou, não mudou a periodicidade do voto.
Encerro
Como encerrar este texto? As Organizações Globo, em parceria com as esquerdas — que hostilizam seus profissionais, com a covardia costumeira —, decidiram depor o governo. E, como se vê, optaram pelo vale-tudo. Quem perde a noção dos limites institucionais acaba, fatalmente, apoiando o golpismo e a agressão a direitos e garantias individuais.
“Teoria conspiratória”? Que besteira. A dita-cuja se alimenta da ausência de fatos — é o caso dos ETs, que nunca aprecem em Nova York ou São Paulo —, e eu lido com uma pletora deles.
Por Reinaldo Azevedo
Um comentário:
A "Plin Plin" está de mal a pior e em vias de quebrar. Para se salvar, a "Plin Plin" conta com o aporte ($$$) de um grupo mexicano (um sócio!), mas como isso não é permitido pelos Códigos e Regulamentos sobre Telecomunicações pelas e o Temer não está a fim de colaborar, essa é a razão "fome com a vontade de comer" para a "Plin Plin" querer e apoiar a deposição do Temer.
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