domingo, 11 de junho de 2017

E a guerra continua


Os ministros Herman Benjamin e Gilmar Mendes (Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo)
Os ministros Herman Benjamin e Gilmar Mendes
 (Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo)

O resultado não surpreendeu. Já era previsto, conhecido, cravado nos jornais pelo menos um dia antes de o TSE derrotar, por 4 a 3, o pedido de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, reeleita em 2014. Também não causou estranheza a guerra que a votação alimentou, por vezes beirando a baixaria. Um espetáculo maniqueísta que há tempos constrange, inibe e empobrece o debate político.

Tem sido assim desde que o país foi dividido entre “nós”, os bons, e “eles”, os maus, prática comum de líderes populistas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aplicou com sucesso durante o seu reinado.

Para que um ganhe, o outro tem de perder. Empate, nem pensar. Não há solução intermediária.

Trata-se de uma lógica simples, de fácil compreensão, similar à torcida pelo time do coração, paralelo que Lula adorava fazer. Mas sabidamente perigosa por antagonizar ideias, pessoas, e de forma irreconciliável.

E, assim como cada brasileiro vira técnico de futebol quando o seu clube favorito entra na disputa, torna-se juiz quando a bola quica nos tribunais.

Por defender a cassação de Temer, que pós-delação de Joesley Batista passou a encarnar todo o mal que assombra o país, o ministro Herman Benjamin, relator do processo no TSE, virou herói. E os que não seguiram o seu voto, bandidos, cúmplices da corrupção.

Voto decisivo para salvar Temer e também o responsável por ressuscitar a ação de banimento na beira do arquivo, o presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, era, há pouco mais de um ano, o incensado da vez. Agora é o demônio da mesma torcida.

O relator apresentou objetividade e consistência em seus argumentos – e aqui não há qualquer juízo de valor –, mas isso não tira os méritos da discordância, não dá direito de desconsiderar o contraditório, taxando-o a priori de imoral.

Embutido no jeito de pensar e agir das torcidas políticas e espalhando-se perigosamente para o público em geral, o antagonismo permanente induzido por Lula ganhou vida própria e não é mais controlável. Deixou de dar frutos só para o lado que o cultiva. Semeia confusão e nutre a discórdia até quando os discordantes estão unidos.

O processo do TSE escancara isso: defensores de Dilma e Temer andaram de mãos dadas para tentar impedir a cassação. Os poucos dilmistas restantes tamparam o nariz para seguir ao lado do “golpista” Temer. Os também minoritários apoiadores fiéis de Temer, que bateram panelas e gritaram “Fora Dilma”, comemoraram. Muitos deles sem se dar conta de que o resultado do TSE é o passaporte para que Dilma dispute cargo eletivo em 2018, direito excepcionalmente concedido no ato do impeachment que ela poderia ter perdido na sexta-feira.

Se o resultado do julgamento foi o perdão parcial de Dilma e o alívio temporário para Temer, o mesmo não se pode dizer sobre as aguerridas galeras. Elas vão continuar se engalfinhando, jogando fora energias que poderiam estar sendo acumuladas para construir alternativas para uma crise que parece sem fim.

Investigar, julgar e punir corruptos é apenas uma parte do processo de recuperação.

Arvoro-me a dizer que o aprofundamento do buraco -- aberto há pouco mais de uma década e no qual o país insiste em continuar enfiado – também é consequência da pouca lida com o contraditório. Da impaciência com a discordância, do estabelecimento de verdades de ocasião que viram mentiras dependendo do lado de quem as contam.

Mas os danos são ainda piores quando intolerância se combina ao juízo prévio de culpa de fulano ou sicrano, cujo determinante é a preferência, o gosto ou o oportunismo político. Postura admissível e usual no embate do Parlamento, no bate-boca de botequim, no disse-me-disse das redes sociais. Impensável nos tribunais, criminosa com o público, terrível para o país.

Por Mary Zaidan em O Globo

2 comentários:

AHT disse...

A COLCHA DE RETALHOS


Aquela colcha de retalhos que tu fizeste

Costurando, juntando pedaço em pedaço...
O cancioneiro popular - sem dúvida alguma, inspira os
Legisladores fazedores de leis e emendas na
Carta Magna, acionados por oportunidades e malfeitos.
Hábeis em criar e reformar, são precisos ao costurar
As indispensáveis brechas entre os retalhos,

De forma que, à primeira vista, permaneçam ocultas
E, na Corte, quando o mais inspirado e arguto Ator,

Ruborizado de vergonha - ou não, ao saca-las das Leis
E da Magna Constituição, uma das partes interessadas
Terá, naquele exato momento, a plena certeza que
A decisão lhe será favorável. E se a vítima for a Nação?
Logo, as decisões políticas e calcadas nessas brechas,
Horripilam os Valores Morais e Éticos da Nação;
O cinismo, juntado às justificativas, pisca para os
Seletos membros de impunes seitas.

AHT
11/06/2017

AHT disse...

BONS TEMPOS
Crise no Rio seria resolvida se cidade virasse segunda capital, diz pesquisador


Para ler o texto completo, acessar o site do Consultor Jurídico, nesse link:
http://www.conjur.com.br/2017-jun-10/elevar-rio-segunda-capital-extinguiria-crise-pesquisador/c/1

Ao ler tal proposta, não resisti e...

Boa Ideia!
Após algumas manobras, leiloar!

Vejamos,


1. A Corte chegou de Portugal, e nada boba, escolheu o Rio de Janeiro.
2. JK deu ouvidos ao santo italiano que sonhou o que hoje é Brasília, a Capital.
3. Agora, sem essa de duas capitais. É voltar a Capital para o Rio de Janeiro, onde tudo isso que assistimos teve início.
4. E, assim, por um fim na brincadeira.
5. Terminada a brincadeira, fundar uma nova Capital e, desta vez, lá no Acre. Bem na fronteira com a Bolívia.
6. Pensando bem, seria melhor cancelar o Tratado de Petrópolis, pegar de volta 4 milhões de libras esterlinas que foi pago à Bolívia (já incluídos os 2 milhões pagos para um Sindicato de lá), e entregar todo o Brasil para a Bolívia.
7. Numa dessas, o Temer entregaria a presidência de cabeça erguida e com a ficha limpa.
8. Aí, inevitavelmente, o Evo Morales não conseguiria governar e decidiria vender tudo, através de um Leilão Internacional.
9. Ou, os EUA do Trump acabaria arrematando, ou a Rússia do Putin.
10. Se a Rússia arrematasse, então seria exigido que Cuba avalizasse. No caso dos EUA, o avalista deveria ser o México.

E estaríamos todos resolvidos. O problema seria ter que aprender falar e escrever em russo, porque se for o inglês, é baba! Afinal, praticamente já falamos inglês e só faltaria desenvolver um pouquinho mais o nosso domínio em embromeichon!

AHT
12/06/2017