sábado, 24 de junho de 2017

Durante Ditadura, Dops produziu mais de 700 investigações no Vale


Ditadura militar

O grande irmão tem olhos em todos os lugares. Viver no Vale do Paraíba durante a Ditadura Militar (1964-1985) era estar sob constante vigilância. Uma reunião de bairro poderia ser alvo de investigação do temido Dops (Departamento de Ordem Política e Social), o órgão de repressão do governo.

Centenas de pessoas da região foram fichadas e monitoradas, como sindicalistas, políticos, empresários, estudantes, professores, líderes comunitários, artistas e até militares. O Dops não tinha preconceito.

No Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo), a "filial" paulista do órgão de repressão, milhares de documentos foram produzidos para acompanhar os subversivos. Eles estão disponíveis no site do Arquivo Público do Estado.

São 775 documentos digitalizados apenas de São José (263), Taubaté (446) e Jacareí (66). Foram monitorados pessoas como o poeta e jornalista Cassiano Ricardo (1894-1974) e até o presidente da Embraer, Ozires Silva, por causa de uma denúncia contra ele veiculada pelos jornais à época.

Na região, um dos mais perseguidos foi o sindicalista Francisco Moreno Ariza, que morreu em 2003. Ele chegou a vereador e vice-prefeito, em 1962, e foi preso em 1964, indiciado pela famigerada Lei de Segurança Nacional.

Ariza foi levado para a Base Aérea de Santos juntamente com o jornalista Luiz Paulo Costa, de São José. Ambos foram encaminhados à sede do Dops, em São Paulo. Sem um inquérito que pesasse contra si, Costa foi liberado. Ariza, não "Ele ficou por ter feito uma viagem à União Soviética" relata Costa.

Em Taubaté, gente do calibre de Monteiro Lobato tinha ficha criminal no Dops desde os tempos de Getúlio Vargas. Outros famosos também: Hebe Camargo e Renato Teixeira. O mesmo ocorreu com políticos, como Félix Guisard Filho, prefeito nos anos 1950, o presidente da Câmara, José Geraldo de Oliveira Costa, e o ex-prefeito Jaurés Guisard. Eles e mais 30 moradores foram investigados após participar da '1ª Semana Monteiro Lobato' em 1953. Todos foram monitorados depois disso.

General da região confrontou o regime e foi contra golpe militar ocorrido em 1964

Irmão do famoso cardiologista brasileiro Euryclídes de Jesus Zerbini (1912-1993), o general do Exército Euryale de Jesus Zerbini (1908-1982) enfrentou a Ditadura Militar mesmo sendo ligado às Forças Armadas.

Nascido em Guaratinguetá, ele assumiu uma posição legalista após o golpe militar de 1964. Era contrário à deposição de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. Ensaiou uma resistência rumando do Vale do Paraíba para o Rio de Janeiro, mas foi perdendo apoio de outros militares e foi obrigado a se entregar. Foi preso e logo reformado. "Ele teve um gesto grandioso", declarou o jornalista Luiz Paulo Costa, de São José dos Campos.

Curiosamente, os documentos do Dops trazem o nome do general grafado de duas maneiras diferente ao nome dele, como Eurialdo e Euryalo.

Nenhum comentário: