sexta-feira, 2 de junho de 2017

Lula chama de ‘canalha’ o campeão de empréstimos do BNDES na era petista



Ao discursar na abertura do 6º Congresso Nacional do PT, no final da noite de quinta-feira, Lula referiu-se ao delator Joesley Batista, do Grupo JBS, em termos pouco lisonjeiros: “Um canalha de um empresário disse que abriu uma conta pra Dilma e outra pra mim. Mas está no nome dele. É ele que mexe com a grana”, afirmou Lula, arrancando risos da plateia companheira. “Agora, eu e a Dilma temos até conta no exterior. Eu nem sabia que ela tinha. E ela não sabia que eu tenho.”

Na era petista, o conglomerado empresarial do “canalha” foi incluído no seleto grupo dos “campeões nacionais”. A companhia de Joesley recebeu tratamento preferencial nos guichês do BNDES. Entre 2007 e 2009, sob Lula, o velho e bom bancão oficial injetou na JBS R$ 8,1 bilhões. O Ministério Público Federal estima que o erário perdeu pelo menos R$ 1,2 bilhão nessas transações. O BNDES chegou a ter quase 35% das ações do grupo JBS/Friboi. No final de 2012, já sob Dilma Rousseff, o BNDES transferiu 10% das ações para a Caixa Econômica Federal.

Convertido em delator, Joesley incluiu Lula e Dilma no seu rol de dedurados. Disse em depoimento à Procuradoria que mantinha em contas no exterior dinheiro de propina destinado aos dois ex-presidentes petistas. Afirmou que os depósitos totalizavam US$ 150 milhões em 2014. Dinheiro sujo, esclareceu o delator, amealhado em troca de facilidades no BNDES e nos fundos de pensão de empresas estatais. Cabia ao ex-ministro petista Guido Mantega gerenciar o dinheiro depositado no estrangeiro para Lula e Dilma, esclareceu Joesley aos procuradores.

Ele esmiuçou: “Teve duas fases. Teve a fase do presidente Lula e depois a fase da presidente Dilma. Na fase do presidente Lula chegou, eu acho, que a uns US$ 80 milhões de dólares. Depois na Dilma chegou nuns US$ 70. Ou ao contrário: 70 na do Lula e 80 na da Dilma. Eu abri duas contas. Tudo conta minha.” Como foi o uso desses valores?, quis saber um dos interrogadores. E Joesley: “Depois gastou tudo na campanha.”

Na expectativa de receber sua primeira sentença do juiz Sergio Moro, Lula tranquilizou a militância petista. “Eu não quero que vocês se preocupem com o meu problema pessoal.” Declarou que acertará suas contas com a força-tarefa da Lava Jato. “Eu já provei a minha inocência. Eu agora vou exigir que eles provem a minha culpa. Vou exigir, porque cada mentira contada está desmontada.”

Comportando-se como uma espécie de comandante de navio que reclama da existência do mar, Lula se queixou da forma como o Jornal Nacional veicula as encrencas nas quais se mete. “Haverá um dia em que o Willian Bonner vai chegar à noite, às 8h30 —eu e a Dilma estaremos assistindo—, ele vai pedir desculpas ao PT.” Lula chegou mesmo a ditar os termos do hipotético pedido de perdão de Bonner: “Desculpa, PT, por tudo o que nós fizemos com vocês, pela tentativa de destruição moral e ética, pelas acusações infames.”

Como se vê, Lula tornou-se um típico político brasileiro. Grosso modo falando.

Por Josias de Souza

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