sábado, 17 de junho de 2017

História de Kohl tem lições valiosas para o Brasil



Morreu o ex-chanceler Helmut Kohl, lendário ex-primeiro ministro da Alemanha. Num instante em que PT, PMDB e PSDB mimam seus corruptos de estimação, vale a pena recordar que Kohl deixou a política nas pegadas de um escândalo. Foi pilhado num caso milionário de caixa dois. Num primeiro momento, negou. Depois, admitiu o malfeito. E pagou com a carreira política.

Kohl comandava sua agremiação partidária, a União Democrata Cristã. Apelidada de “menina do Kohl”, uma protegida que ele introduzira na política distanciou-se do padrinho, pegou em lanças contra sua liderança, mostrou-lhe a porta para a escada de incêndio e assumiu o comando. A algoz de Kohl chamava-se Angela Merkel. Madame higienizou a caixa registradora da União Democrata Cristã. E tornou-se chanceler alemã em 2005.

Desde então, Angela Merkel já prevaleceu em três eleições. E continua no poder. Quanto a Kohl, morto aos 87, desce ao verbete da enciclopédia como um gigante da política europeia do século passado. Há dois anos, Merkel escreveu para o jornal Bild um artigo sobre o ex-padrinho político, que festejava o aniversário de 85 anos.

Ela anotou que o ex-mentor deixou suas digitais em dois momentos felizes da Europa: o nascimento da União Europeia e a reunificação da Alemanha. “É a obra da sua vida”, realçou. “Foi esta a lição que ele tirou do Nacional Socialismo e da 2ª Guerra Mundial. A Alemanha tem muito que lhe agradecer.” Não disse palavra sobre caixa dois ou divergências políticas.

Se tivesse juízo, os políticos brasileiros aproveitariam três lições: 1) O problema não está apenas no caixa dois, mas nas consequências que a prática produz (ou deixa de produzir). No Brasil, já passou da hora de alguém pagar com a carreira política. 2) Um partido não precisa pular na cova junto com seus filiados em litígio com as leis; 3) O pijama, quando vestido na hora certa, pode salvar uma boa biografia de ser soterrada pelo lixo produzido por uma bandalheira levada às últimas (in)consequências.

Por Josias de Souza

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