sábado, 22 de outubro de 2016

Revista revela fotos de prisão oculta de Crivella




Por Josias de Souza

Primeiro colocado na disputa pela prefeitura do Rio, o pastor licenciado Marcelo Crivella (PRB) já foi preso e fichado. Aconteceu em 18 de janeiro de 1990, numa delegacia carioca, a 9ª DP do bairro do Catete. Entretanto, o inquérito havia sumido. Decorridos 26 anos, os repórteres Leslie Leitão e Thiago Prado contam o que se passou em notícia veiculada em Veja.

A encrenca começou a se formar em 1986. Naquele ano, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou um lote de imóveis no bairro de Laranjeiras. Demoliu o que havia neles. Parte do terreno de 840 metros foi transformada num estacionamento. Na outra parte, havia a perspectiva de instalar um templo. À espera da melhor oportunidade para iniciar a obra, a Universal autorizou Nilton Linhares a erguer um casinha no terreno. Mudou-se para o local com a família. E tornou-se vigia.

Súbito, a Igreja Universal quis o terreno de volta. Nilton Linhares se recusou a desocupá-lo. Abespinhado, Crivella decidiu agir. E o fez com alguma truculência. Ele próprio relatou sua versão aos repórteres.

“Estava revoltado. Acordei de manhã, peguei os caminhões que a gente tinha e fui para lá. Arrebentei aquela cerca. Entrei lá dentro. Comecei a tirar as coisas dos caras e botei em cima do caminhão. Mas não toquei nas pessoas. Tinha uns dez homens comigo”.

O advogado de Linhares contou outra história nos autos. Nessa versão, Crivella esteve duas vezes no local. Numa, tentou bloquear o acesso ao terreno. Mas os obstáculos foram removidos. Noutra, Crivella arrombou o portão com um pé de cabra. Estava acompanhado de seguranças armados. Ameaçou a mulher e as duas filhas de Linhares, que já morreu faz mais de 15 anos. Crivella nega a truculência.

Acionada, a polícia levou o pastor para a delegacia. E Crivella passou o dia preso. Foi liberado sob a condição de se apresentar no dia seguinte. Voltou. Passou mais quatro horas detido. Enviado ao arquivo, o processo desapareceu. Supreendido com o surgimento das fotos, Crivella contou que o delegado que o prendeu, João Kepler Fotenelle, já morto, lhe entregou os originais inquérito. Graciosamente. Por quê? Segundo Crivella, o doutor ficou com medo de um processo que a igreja Universal prometia mover contra ele.

Crivella mostrou o inquérito para os repórteres. É “um espinho na minha carne”, disse. De todo o episódio o mais grave nem é a prisão. O mais espantoso é o fato de o inquérito ter saltado dos arquivos da polícia para as mãos do acusado. É impressionante o modo como Crivella tenta esconder o seu passado de missionário.

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