O Vale
Com uma cruz de madeira nas costas, o romeiro percorre sua própria ‘via-crúcis’. Sobre o asfalto quente, castigado pelo sol, os pés do motorista Nelson Martins se movem, lentamente. O peregrino, morador de Santa Branca, é apenas um entre centenas, milhares de romeiros que em outubro seguem para Aparecida e transformam a Via Dutra em uma ‘rota da fé’.
Até o momento, são cerca de 3.800 romeiros que percorrem a rodovia em fila indiana. “Nunca vi tanta gente assim”, afirmou o desempregado Mário Eugênio de Almeida, 29 anos, de São José, outro que encarou a rodovia, ao lado de quatro familiares.
Ele partiu às 7h da última sexta-feira. De acordo com ele, foi a sétima romaria e ela teve a mesma emoção e adrenalina. “Foi uma viagem bem tranquila, anda e só para descansar um pouco, e depois segue em frente”, afirmou Almeida.
O Santuário Nacional acredita que receberá 160 mil turistas no dia 12, Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. “É o centro religioso de peregrinação onde os católicos vem para renovar a sua fé”, afirmou o reitor do Santuário Nacional, padre João Batista de Almeida.
Operação. A Artesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes do Estado de São Paulo) e a CCR NovaDutra lançaram uma nova campanha de orientação para os romeiros. Entre as dicas dadas pelos órgãos está a utilização a Rota da Luz, fazer a caminhada no sentido contrário ao do tráfego, andar em fila indiana e o mais distante possível da pista.
Outra dica é para os peregrinos só caminharem durante o dia, use roupas claras e coloridas, se possível com faixas refletivas, para aumentar ao máximo a sua visibilidade para os motoristas.
Segundo a NovaDutra, entre 1º de setembro e o último domingo, mais de 3.800 pessoas já caminharam pelo acostamento da Dutra, no trecho entre São Paulo e Aparecida. Para conscientizar motoristas, a empresa está distribuindo panfletos nos pedágios informando a presença dos romeiros na rodovia.
De acordo com a Artesp, outras rodovias como Ayrton Senna e Carvalho Pinto também participam do monitoramento para orientar possíveis grupos de romeiros. Houve o aumento na comunicação em painéis fixos e móveis nas rodovias.
Vigilância. A Polícia Militar já começou a “Operação Romeiro”, que visa dar maior segurança aos viajantes que estão andando até Aparecida. Há uma base de apoio diante do Ponto de Encontro, na Basílica.
A operação conta com o apoio do Corpo de Bombeiros, Batalhão de Ações Especiais de Polícia Militar, Polícias Rodoviária Estadual e Federal.
Caminho alternativo, 'Rota da Luz' percorre oito cidades da região
Em busca de um caminho alternativo à Via Dutra, rodovia que tem uma intensa movimentação de veículos, outros romeiros têm escolhido a Rota da Luz para a peregrinação até o Santuário Nacional de Aparecida.
O percurso de 201 quilômetros de estradas rurais passa por oito cidades do Vale -- Guararema, Santa Branca, Paraibuna, Redenção da Serra, Taubaté, Pindamonhangaba, Roseira e Aparecida.
Todo o percurso recebeu sinalização com placas indicativas e os caminhantes poderão registrar a sua passagem pelos municípios com a utilização de QR Code (código quadrado em 2D que pode ser escaneado pela câmera fotográfica do celular), instalados em estabelecimentos comerciais e locais públicos indicados no site da Rota da Luz SP.
“Fizemos os caminhos alternativos para tirar as pessoas da Dutra, onde é perigoso por deixar as pessoas próximas dos caminhões”, disse o turis-mólogo Vanilson Fickert, do setor técnico da coordenadoria de Turismo do Estado de São Paulo.
Além de passar por áreas rurais o caminho pelas cidades, passa por fazendas, parques, praças. As romarias ocorrem durante o ano inteiro, mas, segundo o turismólogo, agora a ideia é incrementar, por se tratar de um período que atrai muitos romeiros. “Além do aspecto religioso, queremos fomentar o turismo. Se a rota passar por Taubaté, por exemplo, poder visitar as figureiras e o sítio. Mostrar coisas além da peregrinação. O Vale é uma região muito rica em turismo”, completou.
A rota foi criado pelo Estado em abril, para dar mais segurança aos fiéis que antes realizavam o trajeto às margens da Via Dutra.
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