Conforme VEJA antecipou na última sexta-feira, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu sobrinho Taiguara Rodrigues dos Santos na Operação Janus. O inquérito, com mais de 250 páginas, foi entregue ontem ao Ministério Público Federal — que vai avaliar se oferecerá ou não denúncia contra o petista. A investigação mira em contratos milionários firmados entre a Odebrecht e a empresa Exergia Brasil, cujo sócio é Taiguara Rodrigues dos Santos, para a realização de obras em Angola.
De acordo com o relatório da Polícia Federal, obtido por VEJA, há “indícios de vantagens auferidas pelo ex-presidente e seus familiares em decorrência de supostos serviços prestados”. No esquema delineado pelos investigadores, Lula atuava como “verdadeiro lobista da construtora Odebrecht”. Formalmente, a empreiteira contratava o ex-presidente para dar palestras em países da América Latina e da África, onde a empresa desenvolve projetos bilionários financiados pelo BNDES. Ao todo, Lula recebeu 7,6 milhões de reais da Odebrecht em sua empresa, a L.I.L.S., e em doações ao Instituto Lula. Nessas andanças pelo exterior, o ex-presidente se encontrava com chefes de Estado e autoridades estrangeiras com os quais discutia assuntos do interesse da construtora, conforme revelam telegramas do Itamaraty analisados pelos investigadores. “Percebe-se, no contato de alguns telegramas, a atuação de Lula no intuito de beneficiar a construtora”, diz o relatório da PF.
Em algumas dessas viagens ao exterior, Lula foi acompanhado pelo ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar. Conforme VEJA revelou na última sexta-feira, o lobista da empreiteira, ao negociar seu acordo de delação, afirmou que Taiguara foi contratado pela Odebrecht a pedido de Lula, no mesmo ano em que o BNDES aprovou um financiamento para a empreiteira construir a hidrelétrica de Cambambe, em Angola. Foi nessa obra que Taiguara prestou serviço à construtora e recebeu 3,5 milhões de reais.
MENSAGENS NO WHATSAPP
Entre as provas utilizadas pela Polícia Federal em seu relatório, estão mensagens e documentos apreendidos pelos investigadores no computador de Taiguara. Conforme VEJA revelou, foi encontrado o seguinte diálogo no WhatsApp do sobrinho de Lula:
Taiguara: Hoje quando o HOMEM me ligou fiquei felizão
Taiguara: Mandei SMS e 05 segundos ele ligou
Taiguara: Quarta estarei com ele
(…)
Fábio Oktober: Mandou no direto dele?
Taiguara: No segurança
Taiguara: Que é o contato oficial. Aí ele falou: o que está acontecendo companheiro
Taiguara: Foi legal
Taiguara: Vai mexer todos os pauzinhos a teu favor
(…)
Taiguara: A T7 vai bombar mais que a Exergia
Taiguara: E o TIO dando empurrãozinho
Taiguara: O Tio hoje preocupado com Cuba, se vira ou não vira…, ele é f…
Taiguara: Não tem um cara igual a esse na minha vida…Ele me trata melhor que os filhos
DOCUMENTOS
Os investigadores também encontraram um arquivo que revela como Taiguara agia em nome de Lula. No documento, de setembro de 2009, o sobrinho do ex-presidente escreve para “Dr. Helder”, identificado pela PF como Helder João Beji, ex-funcionário do Tribunal de Contas de Angola. Na correspondência, Taiguara diz que está enviando uma reportagem sobre o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e preso na Operação Lava-Jato. “Esse mesmo (Bumlai) me procurou a pedido do Chefe Maior, e de seu filho, para tocarmos em conjunto projetos em Angola. Estamos falando de um empresário do mais alto escalão, e que está a nossa disposição. Ele é muito poderoso meu irmão. Projeto acima de US$ 100 milhões é a sua pretensão”, escreveu. A insistência de Taiguara em prospectar negócios na África deu certo. A sua empresa, Exergia Brasil, associou-se com uma companhia portuguesa em Angola — e foi contratada pela Odebrecht para a obra de construção da hidrelétrica de Cambambe, que recebeu um empréstimo de 464,4 milhões de dólares do BNDES. Somente por esse serviço prestado, Taiguara, sem experiência na área de engenharia, recebeu 3,5 milhões de reais.
A existência do negócio entre Taiguara e a Odebrecht foi revelada por VEJA em fevereiro de 2015. Antes de virar parceiro de negócios da Odebrecht, Taiguara era dono de uma pequena vidraçaria. Transformado em empreiteiro de uma hora para a outra, comprou uma cobertura, enamorou-se por carrões e ostentou riqueza nas redes sociais. Na esteira das viagens internacionais do tio Lula, prospectou negócios na América Central e na África. Taiguara sempre negou qualquer favorecimento da Odebrecht. Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari, amigo de Lula na juventude e irmão da primeira mulher do ex-presidente. Funcionários do governo e executivos de empreiteiras costumavam identificá-lo como “o sobrinho do Lula”.
Lula foi indiciado pela Polícia Federal pelo crime de corrupção passiva. Taiguara Rodrigues e Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava-Jato, e outros executivos da construtora foram indiciados por corrupção e lavagem de dinheiro. Em nota, O Instituto Lula afirmou em nota que a defesa do ex-presidente “irá analisar o documento da Polícia Federal, vazado para a imprensa e divulgado com sensacionalismo antes do acesso da defesa”. O advogado Roberto Podval, que defende Taiguara, disse que ainda não teve acesso ao relatório da PF. “Com o indiciamento de Taiguara, agora iremos trabalhar na defesa do nosso cliente. Iremos nos manifestar nos autos”, afirmou Podval.
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