Por Reinaldo Azevedo
Pergunte a um petista qualquer de que modo a ascensão de Michel Temer à Presidência contribuiria para brecar a Operação Lava Jato e, obviamente, não haverá resposta. A razão é simples: a suposta causa não tem relação lógica com a suposta consequência.
Para que tal desígnio se realizasse, seria necessário que Michel Temer e as lideranças que o apoiam tivessem meios de encabrestar os procuradores da Lava Jato, a Polícia Federal, o juiz Sergio Moro e Rodrigo Janot. Se a Lava Jato era, assim, tão facilmente subordinável, por que o próprio governo do PT não se encarregou de tal tarefa?
Golpistas dos 50 tons de vermelho tentam obter rendimento máximo das conversas destrambelhadas entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e Sérgio Machado, o ex-presidente enrolado da Transpetro. O segundo ameaça o primeiro, induzindo-o a lhe oferecer garantias.
O senador não se faz de rogado e promete, em cinco linhas de transcrição, juntar num mesmo eixo de interesses o Supremo, as Forças Armadas, o PSDB, o PMDB, o futuro presidente… Só faltaram as autoridades eclesiásticas.
De fato, como afirmou o advogado de Jucá, não há crime nenhum na fala. A não ser o de excesso de imaginação. Visivelmente, o senador tenta acalmar seu aliado, não se dando conta de que caía numa cilada.
É evidente que Jucá estava acenando para o interlocutor com algo que não poderia entregar. Aliás, Machado tinha plena consciência de que não seria beneficiário daquela oferta. Tanto é que, tudo indica, já havia feito delação premiada e estava apenas tentando levar o interlocutor para o buraco, o que acabou conseguindo.
Os petistas e seus esbirros já tinham inventado a tese do golpe, mas faltava o enredo. Os diálogos fornecem o entrecho narrativo que confere verossimilhança a uma farsa. Se, antes, até os petistas ficavam um pouco constrangidos porque não conseguiam apontar onde diabos estava o golpe, agora eles se sentem confortáveis: “Ouçam o que disse Jucá…”.
Foi o que fez Dilma Rousseff, a Afastada, nesta segunda à noite, durante um evento sobre agricultura familiar. Discursando para 700 pessoas, como se estivesse à frente da Presidência, mandou ver: “A gravação mostra o ministro do Planejamento interino, Romero Jucá, defendendo o meu afastamento como parte integrante e fundamental de um pacto que tinha como objetivo interromper as investigações”.
É do balacobaco! Dilma, por acaso, queria fortalecer as investigações? Não foi ela a nomear Lula ministro, aquele que dizia ser ele próprio a única pessoa capaz de botar os procuradores no seu devido lugar? Segundo Delcídio do Amaral, ela, sim, tentou interferir nos tribunais superiores para beneficiar presos e investigados.
E a doidona foi adiante:
“Se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder e na fraude, as declarações fortemente incriminatórias de Jucá sobre os reais objetivos do impeachment e sobre quem está por trás dele eliminam qualquer dúvida. A gravação escancara o desvio de poder e a fraude do processo de impeachment praticados contra uma pessoa inocente. Revelam o modus operandi do consórcio golpista”.
Dilma, como de hábito, não sabe o que diz. Em primeiro lugar, ela precisaria dizer onde está a parte dita “incriminatória” da fala de Jucá. Em segundo lugar, seria preciso evidenciar onde está revelado o “desvio de poder”.
Dilma e o PT querem usar uma conversa sobre o nada para esconder ou justificar os seus próprios crimes. Mas não vão prosperar.
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