segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Monobloco


Dora Kramer, O Estado de S.Paulo

Normalmente governos governam e oposição faz campanha para vir a governar.

Por aqui é diferente: o governo faz campanha e a oposição, em sua extrema delicadeza, ajuda a governar. De vez em quando leva umas pancadas - na última foi acusada de traição à pátria -, mas nem assim fica esperta.

Por campanha eleitoral entenda-se não só o tom do pronunciamento em que a presidente Dilma Rousseff anunciou a redução das tarifas de energia elétrica, mas todo o gestual do ex-presidente Lula, do PT e da assessoria palaciana.

Fala-se na reeleição de Dilma como se o pleito fosse depois de amanhã. Fala-se em desentendimentos entre ela e Lula como se fossem adversários ou houvesse a mais pálida hipótese de virem a ser. Fala-se que o governador Eduardo Campos não será candidato a presidente como quem tem a posse do destino alheio. Fala-se que Aécio Neves só disputará o Planalto para valer em 2018, como quem se dá o direito de traçar o destino do vizinho.

Nada do que se diz, no entanto, tem a menor relevância porque as nuvens da política estão hoje de um jeito, amanhã de outro e daqui a dois anos sabe-se lá como estarão.

O que existe de concreto é só um jogo de ocupação de espaço e geração de uma atmosfera de continuidade inevitável, a fim de evitar que os ventos da expectativa de poder tomem outra direção: seja de Eduardo Campos, Aécio Neves, Marina Silva ou de quem quer que se apresente como alternativa.

A reafirmação contundente da candidatura de Dilma em 2014 cumpre o objetivo de impedir o esvaziamento político do mandato daqui até lá. A insinuação de que Lula pode vir a ser candidato no lugar dela ou até mesmo em 2018 tem a finalidade de sinalizar impossibilidade de alternância.

Já as supostas divergências entre o ex-presidente e a sucessora são apenas suposições. Eles podem até pensar diferente nessa ou naquela questão, mas o projeto tem um arquiteto chefe em cujas mãos estão a régua e o compasso.

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