As melhores intenções da humanidade -ou o que restava delas- perderam-se nos escombros das torres gêmeas de Nova York, há uma década.
Inaugurada com a Liga das Nações, nas pegadas da carnificina da Primeira Grande Guerra, a utopia de um mundo gerido pela concórdia reduziu-se a pó.
Depois do ataque terrorista e de suas consequências, iniciou-se um novo tipo de conflito. Uma batalha sem fim.
De um lado, o fast-food de valores morais de um hipotético McWorld. Do outro, uma Jihad de vocação suicida. No limite, uma guerra da intolerância versus o fanatismo.
Em artigo que traz uma interrogação no título –“É possível um novo 11/9?”—, o repórter Clóvis Rossi faz um competente retrato da cena.
Ajuda a entender por que o sonho americano, crivado de medo, reduziu-se à torcida para que o gasto anual em segurança (US$ 75 bi) sirva para alguma coisa. Leia:
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“O décimo aniversário dos atentados de 11 de Setembro não monopoliza apenas a agenda da mídia. Estava igualmente presente nos computadores apreendidos na casa em que Osama bin Laden foi morto, conforme o ‘Washington Post’.
O jornal informa que Bin Laden queria lembrar os atentados de 2001 com ‘ataques capazes de mudar a história, visando grandes alvos, economicamente importantes’. Já seu segundo, Ayman al Zawahiri, hoje o líder da Al Qaeda, preferiria golpes menos ambiciosos e mais oportunistas só para marcar a data.
Essas informações combinam perfeitamente com a informação de que o governo dos EUA dispõe de relatórios de inteligência ‘críveis’ segundo os quais a Al Qaeda prepara atos terroristas para hoje.
Há realmente a possibilidade de que se repita um 11/9? Em toda a montanha de análises que li a propósito dos dez anos dos atentados, ninguém se animou a dizer que é impossível.
Quem mais perto chegou desse tipo de otimismo foi Richard A. Falkenrath, pesquisador-sênior do Council on Foreign Relations para Contraterrorismo e Segurança Interna.
Escreveu: ‘Não há dúvida de que o território norte-americano está hoje significativamente mais seguro contra um ataque terrorista do que há dez anos’. Mas, acrescentou, ‘o sistema de segurança interna tem muitas fraquezas’.
‘Permanecem grandes vulnerabilidades, algumas das quais apresentam catastróficos 'tail risks', ou seja, um evento que, embora muito improvável, poderia causar enormes danos'.
Se é assim, dá para dizer que, após dez anos e duas guerras não concluídas, os EUA estão perdendo a batalha contra o terrorismo? Há respostas para todos os paladares.
A minha é simples e óbvia: não há como ganhar uma guerra contra fanáticos. Bastam um, dois ou dez cidadãos dispostos a matar e morrer no mesmo ato para que se pratique um atentado de pequenas, médias ou grandes proporções.
A única maneira de reduzir o risco seria reduzir o fanatismo, já que eliminá-lo não está no horizonte.
A ação dos Estados Unidos nos 10 anos pós-11/9 ajudou a reduzir o fanatismo? Ao contrário. Basta ler os jornais para ver que, dia sim, outro também, há um atentado feio no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, na Índia, até na Nigéria, mais distante do epicentro do terrorismo.
Pior: os atentados deram origem ao agravamento de um fanatismo de sinal inverso, a islamofobia.
É como analisa Alain Gresh, editor de Le Monde Diplomatique:
‘Os discursos sobre a 'ameaça islâmica' penetraram profundamente nas sociedades e mentalidades do Ocidente, (...) causando o crescimento de um clima islamofóbico que prepara a cama para uma nova direita radical’.
Há, no entanto, um fenômeno nascido justamente neste décimo aniversário do 11/9 que dá margem para cauteloso otimismo: os movimentos democráticos que pipocam em boa parte do mundo árabe.
Democracia é, talvez, o melhor antídoto contra o fanatismo. Mas, enquanto ela não se firma, resta torcer para que os US$ 75 bi que os EUA gastam anualmente em segurança interna sejam de fato eficazes.”
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