terça-feira, 20 de setembro de 2011

Este é um país em que todos são vítimas, menos as… vítimas!



Um sujeito com sinais de embriaguez atropelou e matou uma mulher e sua filha em São Paulo. Miriam Afif José Baltresca, de 55 anos, e Bruna Baltresca, de 28, foram colhidas pelo Golf conduzido por Marcos Alexandre Martins na calçada em frente ao shopping Villa Lobos. O motorista não quis se submeter ao bafômetro, a exemplo das celebridades e políticos flagrados pela Polícia, que deram início ao mau exemplo.

Vi há pouco no Jornal Nacional uma afirmação interessante de Rafael Baltresca, filho de Miriam e irmão de Bruna: “Ele [o motorista] bebeu porque quis, correu porque quis e tem de pagar”.

Dou os parabéns a esse rapaz pelo sangue frio e pelo poder de síntese, mesmo num momento de intensa dor. Mas também declaro o meu ceticismo. O Brasil está se transformando num país de inimputáveis, em que quase tudo pode. Se vocês notarem, todo mundo tem direito ao menos a um cadáver… Sem muito esforço, na pior das hipóteses, é posto na rua depois de uns quatro anos… Na melhor (para o assassino), o que é mais freqüente, não acontece nada.

Só não se pode matar algum animal em risco de extinção. Aí, se o sujeito é pego, é cana na certa. Como o ser humano não está mesmo em extinção, tudo bem. Na hipótese de certos orientalismos estarem certos, só resta à vítima voltar como tartaruga na próxima encarnação… Será protegido por umas 357 ONGs.

Volto ao jovem Rafael, que perdeu a mãe e a irmã porque um cara decidiu beber demais e correr demais. O rapaz fala em “escolha”, em “decisão”, algo com que este país lida mal. Aqui, todo mundo é vítima. O bêbado é vítima. O drogado é vítima. Só as vítimas dessas vítimas não têm o direito de reclamar.

Por Reinaldo Azevedo

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