Zhao Ziyang, ex-premiê chinês, passou 16 em prisão domiciliar por criticar o massacre da Praça da Paz Celestial |
A advertência que fez FHC a Jair Bolsonaro, presidente eleito, sobre críticas apressadas ou destrambelhadas à China era só matéria de prudência. O país é o principal parceiro comercial do Brasil. O saldo da balança comercial em 2017 foi uma bagatela de, atenção!, US$ 20,167 bilhões, o que corresponde a 30,1% do superávit total: US$ 67 bilhões. O Brasil exportou para aquele país US$ 47,488 bilhões e importou US$ 27,321 bilhões. As transações correntes entre os dois países somaram US$ 74,810 bilhões. Que se note: o ex-presidente da República, que se comportou com distanciamento na disputa eleitoral — ficou muito longe de recomendar que se votasse contra Bolsonaro, advertindo apenas contra rompantes fascistoides da campanha aqui e ali — não foi agressivo, grosseiro ou irônico. Foi apenas objetivo.
Em troca, recebeu de Bolsonaro, via Twitter, uma imagem em que aparece sentado numa poltrona segurando um livro de capa vermelha intitulado “Prisoner of The State: The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang” (Prisioneiro do Estado: O Diário Secreto do Premiê Zhao Ziyang). A ideia, depois explicitada pelos bolsonaristas: “FHC é um comunista; tanto é assim que está lendo um livro vermelho, sobre a China”.
Pois é… Ocorre que o livro “O Diário Secreto de Premiê Zhao Ziyang” e, na verdade, uma dura crítica ao regime chinês, não um elogio. Ziyang era secretário-geral do Partido Comunista em 1989, quando houve a chamada “Revolta da Praça da Paz Celestial”, entre 15 de abril a 4 de junho de 1989, quando houve, então, o grande massacre, ao qual o Ziyang se opôs. Por essa razão, caiu em desgraça e passou os quase 16 anos seguintes em prisão domiciliar. Ao morrer em consequência de um AVC, em 2005, o regime determinou que o velório fosse realizado com a máxima discrição, sem qualquer menção ao fato de que ele tinha sido um dos homens mais importantes da China, com atuação especialmente voltada à modernização da economia e da administração.
Vale dizer: o ataque a FHC, acusando-se de comunista, em razão de uma simples advertência, sem qualquer agressividade, é o resultado, reitero neste ponto, de uma politica exercida na base da desinformação e do puro embate ideológico. O mais curioso é que Bolsonaro acusa a política externa brasileira de se pautar por questões ideológicas, deixando de lado o pragmatismo.
A hostilidade de Bolsonaro à China já foi matéria de editorial do “China Daily”, o principal jornal estatal do país. E o texto lembrou justamente a relação vantajosa para o Brasil na balança comercial.
Por Reinaldo Azevedo
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