Como é mesmo? As coisas estranhas vão acontecendo, e a gente pode ir fingindo que elas são normais. Vamos ver o caso do futuro superministro da Justiça Sérgio Moro. Ele tomou duas decisões que são realmente, como direi?, um tanto assombrosas para quem ama a lógica, o rigor técnico e mesmo as leis.
Superministro da Justiça já designado pelo futuro governo, ele não vai se afastar já da magistratura, não. Pediu para tirar, a partir desta segunda (5), as férias que tem acumuladas e se afastar dos processos da Operação Lava Jato. Afirmou: “Pretendo tirar a partir da presente data as várias férias que acumulei durante o meu período de magistrado em decorrência das necessidades do serviço. As férias também permitirão que inicie as preparações para a transição de governo e para os planos para o ministério”. Entendi.
A coisa é feita em etapas do ponto de vista burocrático. O primeiro período se estendem até o dia 21 de novembro; depois, até 19 de dezembro. Os casos ligados à Lava Jato passam para a juíza Gabriela Hardt. O curioso é que ele diz que assim procede para “evitar controvérsias”… É mesmo?
Já me parece controverso o bastante que ele decida ser um dos principais ministros daquele que era adversário de quem ele condenou e mandou prender. Nem entro no mérito agora. Não menos controverso é ter-se encontrado com o outro futuro superministro, Paulo Guedes, ainda durante a campanha eleitoral. Pouco importa saber se o fez por conspiração ou distração.
Moro deveria se desligar da Justiça imediatamente, não? A exemplo de outros juízes, ele pode receber as férias atrasadas, a que diz ter direito, já formalmente desligado do Poder Judiciário. E, parece, até onde alcanço, mesmo com o outro emprego arrumado, ele continuará a receber seu salário regularmente, certo? A menos que abra mão. Segundo o que se divulgou, não vai se desligar já do Poder Judiciário, embora já esteja atuando para o grupo que vai tomar conta do Poder Executivo.
Nunca antes na história deste país.
É claro que se trata de uma heterodoxia que, em tempos normais, deveria ser considerada constrangedora. Mas, parece, há no país o grupo de indivíduos que tudo podem.
O juiz sabe, obviamente, que está atuando de maneira inusitada. Mas essa tem sido a sua história e a sua trajetória, não é mesmo? Ele não tem medo de ser ousado com a ordem legal e com certos padrões que antes se chamavam “decoro”.
Por Reinaldo Azevedo
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