Em ‘A Prisioneira’, Marcel Proust (1871-1922) anotou: “Habitualmente detestamos o que nos é semelhante e nossos próprios defeitos vistos de fora nos exasperam.” Jair Bolsonaro detesta Lula —e vice-versa. Pelo menos num ponto, porém, os dois são muito semelhantes: o desapreço pela imprensa. Para um, a mídia é golpista. Para outro, é uma usina de fake news.
Bolsonaro já manifestou o desejo de exterminar a Folha. Depois, insinuou que cortará os anúncios federais em veículos de comunicação que não o tratarem de “maneira digna”. Na era petista, recorria-se a esse mesmo tipo de ameaça publicitária.
Nesta quinta-feira, perguntou-se ao capitão o que acha da tese do seu vice Hamilton Mourão segundo a qual jornalistas não deveriam ser vistos como “inimigos.” E Bolsonaro: “Eu cheguei aqui graças às mídias sociais.”
Em entrevista na qual os representantes de jornais não foram autorizados a entrar, Bolsonaro disse aos repórteres de TV e de portais: ''Quem vai fazer a seleção de qual imprensa vai sobreviver ou não é a própria população. A imprensa que não entrega a verdade nos seus jornais, nas televisões e no alto-falante das rádios, vai ficar para trás.''
Preso em Curitiba, Lula já aprendeu algo que a rotina do poder ensinará também a Bolsonaro: é inútil tomar distância de certos jornalistas. Eles não chegam aos fatos pela visão, mas pelo olfato. Quando sentem algo fedendo, vão atrás. E acabam se transformando na vista da nação, mostrando coisas que as mídias sociais escondem.
Por Josias de Souza
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