Quando saíram de casa na célebre jornada de junho de 2013, as ruas informaram que ainda havia sociedade civil no Brasil. E ela estava muito irritada. A densidade do ronco passou a impressão de que o asfalto queria atear fogo na conjuntura, incinerando tudo e todos —partidos, pessoas, grupos e grupelhos políticos.
O tempo passou. No ciclo mais recente de manifestações, iniciado em março de 2015, o meio-fio conseguiu dizer, de maneira mais clara, o que não quer: Dilma, Lula e o PT no poder. Mas não informou direito o que desejava fazer para preencher a cadeira vazia no gabinete presidencial.
No protesto deste domingo, a rua planejou a sua raiva. Fez isso em reuniões com representantes dos partidos de oposição. Pela primeira vez, políticos que se opõem ao governo participaram da organização das manifestações. Representante dos partidos no comitê organizador, Mendonça Filho (DEM-PE), explicou:
“Nós sabemos que o impeachment não acontecerá sem o povo na rua. E o povo desenvolve a consciência de que o impeachment não passará sem uma maioria parlamentar expressiva que o viabilize. Tem que haver uma cumplicidade entre os dois lados.”
Beleza. Mas, dependendo de como Dilma for impedida, o resultado será diferente. A cadeira pode ser ocupada pelo vice Michel Temer (Irrrc…) ou pelo eleito em novas eleições (Deus ajude o eleitorado!), depois de uma presidência interina de 90 dias do Eduardo Cunha (o diabo que o carregue!).
Não é só: se a Justiça Eleitoral cassar a chapa Dilma-Temer a partir de 2017, o novo presidente será escolhido, em eleição indireta, por um Congresso comandado pelo inaceitável Renan Calheiros e habitado por uma inacreditável legião de quatro dezenas de petrolões. Sem contar os mais de 150 processados no STF, que percorrem os corredores do Legislativo como se nada tivesse sido descoberto sobre eles.
Há mais e pior: corre por fora uma emboscada chamada “semipresidencialismo'', armada pelo inaceitável Renan em parceria com o impensável José Sarney. Destina-se a encolher os já inexistentes poderes de Dilma, mantendo-a no Planalto como fantoche de um marionete que eles indicariam para fazer as vezes de primeiro-minitro.
Quer dizer: agora que decidiu sentar à mesa em vez de virá-la, o asfalto precisa trabalhar com um mínimo de previsão. Deve saber que não são negligenciáveis as chances de reincidir no erro permanente, que conduz o Brasil ao seu destino-pastelão.
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