Se Gabriel Garcia Marques vivesse no Brasil, provavelmente seu livro que conta as lembranças das aventuras sexuais de um senhor de 90 anos, se chamaria “Memórias das Minhas Putas Felizes”. Essa é a impressão que tem quem acompanha, por exemplo, o deputado federal Jean Willis no twitter.
Ontem a assessoria de comunicação do deputado reproduzia pelo twitter, trechos de sua fala no programa Papo Saúde, do Instituto Sabin. O deputado expunha seu pensamento sobre homossexualidade, direitos gays e… de repente:
Isso mesmo que você leu, caro leitor. O deputado diz: “Há mulheres que se prostituem pq querem, pq gostam, pq escolheram”. “Quero garantir o direito da mulher q escolheu ser prostituta. É direito delas. Quem sou eu pra julgá-las?”
Não sei, sinceramente não sei de onde ou aonde quer chegar essa turma que tenta entranhar na mente das pessoas a ideia de que uma mulher, mesmo tendo oportunidades, escolhe ser prostituta, assim, tipo por vocação. Como quem escolhe ser médica, pela ótica do deputado, ela escolheu ser prostituta.
Que tipo de degradação eles querem defender? No sábado o Estadão entrevistou uma das felizes prostitutas que participou da campanha abortada do ministério da Saúde sobre a felicidade de ser puta. Ela dizia que tem muito orgulho, pois adquiriu muito conhecimento com a profissão. A feliz puta que critica o preconceito da sociedade e se orgulha da profissão, mas que não atende clientes a menos de 15 quilometro de onde mora, contou a sua gloriosa história de vida e lá é possível ver como a profissão foi escolhida. Leia o trecho abaixo:
“Nascida em Três de Maio, no oeste do Rio Grande do Sul, ficou órfã de mãe aos 9 anos e de pai aos 11 anos. Depois de morar na casa de tios por algum tempo, alugou uma casa com uma irmã e uma colega, aos 14 anos. E estudou até concluir o ensino médio. Apesar da pouca idade, passou a trabalhar como ajudante de limpeza de um supermercado. Saiu de lá quando era gerente, aos 18.
Quando deixou o supermercado, foi morar em Horizontina. Já era mãe da primeira filha, que decidiu criar sozinha depois de flagrar uma traição do namorado durante a gravidez. Em menos de um ano mudou de cidade de novo e foi para Campo Bom, no Vale do Rio dos Sinos, trabalhar na indústria calçadista. Lá teve outro namorado e a segunda filha, que o pai assumiu somente quando a criança tinha 6 meses. Depois de cinco anos na linha de produção de sapatos e tênis, decidiu deixar as filhas morando com o pai e os avós, que haviam mudado para Campo Bom, e foi procurar emprego em Porto Alegre.
Na capital, a vida de Nilce deu mais uma guinada. De uma troca de olhares em um terminal rodoviário urbano nasceu uma paixão. Em pouco tempo, o namorado sugeriu que ela fizesse programas. Depois de alguma relutância, topou e fez de uma esquina da rua Vigário José Inácio seu ponto. O primeiro cliente foi um homem de 65 anos. “Me senti estranha, mas no dia seguinte fui de novo e nunca mais saí”, recorda. “Ali eu ganhava dinheiro e levava para minhas filhas.”
Não é bela, gloriosa e feliz a história dessa mulher que, como defende o deputado Willis, escolheu ser prostituta?
Então seria o caso de classificar as campanhas governamentais para coibir o turismo sexual, como uma forma de tolher o mercado de trabalho das felizes prostitutas brasileiras. E vou mais longe, por essa premissa de difundir a felicidade de ser prostituta e reconhecer o trabalho, o governo brasileiro deve mudar o escopo das campanhas e anunciar em outros países dizeres como: “As nossas prostitutas são mais felizes que as outras. Vejam conferir”.
A minha dúvida é apenas quanto à carreira do cafetão. Não sei se será regulamentada pelo governo ou se o próprio governo irá assumir a função de gigolô das felizes putas.
Por Adriana Vandani
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